O homem que me ensinou a ser bispo foi Dom Luciano José Cabral Duarte,
figura exponencial do episcopado brasileiro nos anos 1970 a 2005. O ser Arcebispo Metropolitano de sua terra
natal, Aracaju, é caso mais único que raro na história dos Bispos do Brasil.
Quando padre, doutorou-se em filosofia pela Sorbonne de Paris, com brilhante tese escrita em francês que, infelizmente, só recentemente, após sua doença, foi
publicada por sua irmã Carminha Duarte, com a tradução portuguesa. Grande
Arcebispo, foi notável no campo da educação,
como membro do Conselho Federal de
Educação e presidente do MEB (Movimento de Educação de Base), criado pela Igreja do Brasil no combate ao
analfabetismo, nos difíceis tempos do regime militar. Empenhou-se com todas as
veras e conseguiu, após muita luta com o Ministro da Educação, Jarbas
Passarinho, a criação da Universidade Federal de Sergipe que, infelizmente, nunca
soube reconhecer e ser-lhe devidamente grata por esse seu esforço decisivo para
a educação em Sergipe.
O seu clero
estava bem unido e solidário com sua ação pastoral. Alguns, de outras
nacionalidades, que o combateram antes de sua promoção de bispo auxiliar para Arcebispo, retiraram-se quando ele assumiu o
governo pastoral pleno de Aracaju. Cada
ano tinha a grande alegria de promover pessoalmente a tradicional romaria a
Divina Pastora, cuja igreja matriz era o santuário mariano da Arquidiocese. Na
sua esclarecida ação social, criou a PROHCASE (Promoção do Homem do Campo de
Sergipe), com terras de cinco fazendas,
compradas ou recebidas em doação e nas quais número expressivo de agricultores
trabalhavam para seu honesto sustento, mediante pequena contribuição para a Arquidiocese. Depois da experiência de
alguns anos, as terras destas fazendas foram doadas aos que as cultivavam. Foi
autêntica e sábia reforma agrária, tão apregoada e mal realizada pela esquerda
brasileira.
Dom Luciano
exerceu como poucos o ministério da Palavra. Suas homilias aos domingos, na
igreja de São Gonçalo, transmitidas pela
Rádio Cultura, eram autênticas lições de sábia teologia pastoral. O mesmo se
pode dizer de seus programas na mesma rádio da Arquidiocese ao meio-dia dos domingos,
seguidos por imenso número de ouvintes
em todo o Sergipe.
Fui nomeado seu
bispo auxiliar pelo Beato Paulo VI, que
me elegeu bispo titular de Zallata,
cidade antiga da Algéria. Foi Dom
Luciano quem me sagrou bispo em Natal, em 20 de abril de 1975. Trabalhei ao seu
lado por cinco anos e foi ele com sua experiência quem me reintroduziu na
pastoral. Eu vinha do trabalho na educação, como diretor de escola, membro do
Conselho Estadual da Educação e presidente da Associação de Educação Católica e
do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio Grande do Norte.
Muito aprendi de
sua inquebrantável fidelidade ao Papa,
sua irrestrita adesão ao ensinamento da Igreja de Jesus, sua decidida defesa do ensinamento pontifício,
nos tempos difíceis, em que ele viveu e
exerceu seu ministério. Tempos difíceis na política nacional e tumultuados
dentro da Igreja, com posições teológicas equivocadas.
Enfim, foi Dom
Luciano Duarte o homem que me ensinou a ser bispo...
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