sexta-feira, 13 de novembro de 2015

INVALIDADE OU INVALIDAÇÃO?

A  NOVA  LEGISLAÇÃO  CANÔNICA
A RESPEITO DA DECLARAÇÃO DE NULIDADE DO MATRIMÔNIO  CRISTÃO


  Três  observações prévias:

a)        O Papa pode alterar um artigo do Código de Direito Canônico?
Claro que sim. Ele é o supremo legislador da Igreja.
Não pode ser julgado por ninguém, nem por nenhum tribunal.
 Cânon 1404: Prima sedes  a nemine  iudicatur.
b)      Um matrimônio válido pode ser invalidado, isto é, declarado nulo por um tribunal eclesiástico? Não. A Igreja, após processo judicial, pode declarar que um matrimônio foi inválido, isto é, desde o primeiro momento não existiu validamente?  Sim. Quer dizer, que os nubentes não cumpriram  as condições requeridas para, livre e conscientemente,  jurarem mutua fidelidade e cumprimento das obrigações inerentes
              ao matrimônio.
c)       Os documentos papais obedecem a certa hierarquia.  Para citar exemplos: Constituição, Encíciica, Mensagem (de ano novo, p.ex.), Exortação  Apostólica, Carta Apostólica, Motu Proprio e  outros. O ministério apostólico o Papa ainda o exerce nas
Audiências gerais das quartas-feiras, no Angelus  dos domingos, e agora, na homilia diária da missa na Casa Santa Marta.
*****
              1.Agora, Papa Francisco, em data de 8 de setembro  último, promulgou dois documentos, que no linguajar canônico se chamam “Motu Proprio” - “De própria iniciativa”, com o título “Mitis Iudex Dominus Iesus” - O Senhor Jesus,  Juiz Benigno”.
                 No primeiro, ele dá os critérios fundamentais  que guiaram a obra da reforma.
                Ele diz: “Decreto e estabeleço  que os cânones 1671  a 1691, sobre as  causas  para a declaração de nulidade do matrimônio, a partir do dia 8 de dezembro de 2015  sejam integralmente substituídos.”
                No segundo, em 21 artigos, o Papa Francisco dá as “Regras de procedimento para lidar com os casos de nulidade matrimonial”.

               2.Tendo presente a lei suprema da Igreja, que é a salvação das almas, como diz o cânon 1752 do Direito Canônico, o Papa constituiu um grupo de pessoas, como ele diz, “eminentes por doutrina jurídica, prudência pastoral e experiência forense”, sob a direção do juiz decano da Rota Romana, o mais alto tribunal eclesiástico. O objetivo não é a anulação de matrimônios, mas sim a celeridade dos processos, lembrando o princípio do Papa Gregório IX: “justiça atrasada é justiça negada”.

                3. Critérios fundamentais, como o próprio Papa chama:
      I- Uma só sentença em  favor da nulidade executiva.Não mais uma dupla decisão.
     II – Um juiz único sob a responsabilidade do Bispo. Ele deve assegurar que no exercício pastoral do seu poder de juiz não se introduza qualquer laxismo (frouxidão).
        
      III -  O próprio Bispo é Juiz. É o que o Concílio Vaticano II desejava. O Bispo não deixe entregue totalmente à  sua  Cúria a função judiciária em matéria matrimonial.
      IV – O processo ficou mais breve. Sobretudo, nos casos  em que já está evidente a nulidade do matrimônio. Mas aqui o Papa observa: “Não me escapou o perigo de pôr em risco o princípio da indissolubilidade do matrimônio verdadeiro. Por isso mesmo, eu quis que em tal processo seja constituído o próprio Bispo como juiz  que, em força de seu ofício pastoral, ele é com Pedro a garantia maior da unidade católica na fé e na disciplina.”
       V -  O apelo à Sé Metropolitana. É uma tradição secular. O chefe da Província Eclesiástica é um sinal da sinodalidade da Igreja. (A Igreja organiza-se em Províncias).
       VI -  O papel das Conferências episcopais. Elas, respeitando o direito  de cada Bispo  no seu poder judicial, dêem aos Bispos o estímulo e  apoio que necessitarem.
      VII – O apelo à Sé Apostólica. Convém que se mantenha o apelo à Sacra Rota Romana, cuja legislação própria será reformada adaptando-se às novas leis.
4. Vamos então às principais novidades, que são as seguintes:                     
a) maior rapidez no processo matrimonial. Os casos mais simples, de nulidade líquida e certa,  podem ser resolvidos diretamente pelo próprio bispo;
b) foi suprimida a chamada “dupla sentença conforme”. Por exemplo: um processo resolvido em Pernambuco, era remetido ao tribunal de Fortaleza,  de segunda instância, que em geral demora demais e muitas vezes contradiz a sentença do Recife. Agora bastará a sentença do tribunal de primeira instância;
c) a primeira instância  será um tribunal colegial, formado de um clérigo e dois leigos, de reconhecida competência no direito canônico;
d) o depoimento das partes, isto é, dos cônjuges, marido e mulher, se for revestido de bastante credibilidade, que produza certeza moral no juiz, fará o que se chama prova plena e terá apenas uma  testemunha qualificada, que pode ser um catequista,, um pai de família, e qualquer pessoa respeitável. Este ponto, realmente, dará ao processo grande celeridade..

                5. Na entrevista que o canonista Edson Sampel deu à Agência de Notícias ZENIT foi  tratada  afinal a questão dos custos. É  questão de difícil solução,  porque hoje impede aos pobres o acesso aos tribunais eclesiásticos. O que o Papa Francisco deseja é que as dioceses assumam as inevitáveis despesas, como os salários dos funcionários dos tribunais. As partes, se puderem, devem colaborar  com as despesas.
               
6.  Algumas observações: Fique claro que o matrimônio verdadeiro, realizado conforme as normas da Igreja, com seriedade. é sempre indissolúvel. E os casamentos que vemos em nossas igrejas do centro da cidade? Nada de preparação espiritual, como a confissão e  a comunhão. Única preocupação: o vestido da noiva, os cinegrafistas, a orquestra e etc .É os que eu chamo  ” shows matrimoniais”.
               
7. Concluindo, repito: Não existe anulação de matrimônio  válido, (o tal divórcio à católica) mas sim declaração da invalidade de um matrimônio nulo, agora apressada pelas determinações do Legislador supremo, o Papa, que entrarão em vigor no próximo dia 8 de dezembro.


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A familia santificadora

Encerrado o Sínodo dos Bispos sobre a Família  no domingo 25 do mês passado, enquanto esperamos a palavra do Papa sobre as “propositiones”, aprovadas pelos Padres Sinodais, o tema “família”  está no centro das  preocupações da Igreja no momento atual. Por isso,  volto a tratá-lo aqui, agora  sob o prisma da Família-Igreja doméstica, santificadora.               
                Entre os deveres dessa Igreja  doméstica,  assume particular relevância o da educação na fé dos filhos. Tal dever é assumido formalmente no ato do Batismo. Aliás, esse compromisso os pais o assumem como condição necessária para a admissão da criança ao batismo na idade infantil, sem a qual ela não poderia sequer ser batizada. É nos joelhos da mãe, sempre se disse,  que a criança aprende a amar a Deus. Os pais cristãos  devem  bem cedo dar aos filhos, juntamente com o exemplo da prática da fé, os primeiros rudimentos da doutrina cristã,  com um conhecimento singelo de Deus, de Jesus e da Virgem  Maria. Na idade oportuna, os pais devem preocupar-se de levar os filhos ao catecismo e acompanhá-los na preparação aos sacramentos  da Reconciliação e  da Eucaristia.
                O exemplo dos pais é  decisivo na preservação dos valores morais da família. Vou tentar citar alguns, que me parecem mais urgentes no mundo de hoje, na sociedade atual.
                São eles:
                - a fidelidade mútua dos esposos; é o exemplo mais lúcido, o apelo mais forte para a unidade e a harmonia do lar, junto com  o carinho e a delicadeza no trato dos esposos entre si –  fator de serenidade e educação, movida pela razão e pela compreensão;
                - o apreço pela virgindade, condição para reta formação dos filhos, sobretudo das jovens, inspirada nos ideais cristãos da pureza e da valorização da mulher,   pessoa humana, sujeito de direitos e deveres;
                - apreciação crítica, à luz da fé, dos  espetáculos televisivos e dos acontecimentos do dia-a-dia, divulgados pelos meios de comunicação, hoje principalmente pelas redes sociais e comentados pelos filhos;
                - sadio e equilibrado relacionamento entre os  jovens dos dois sexos, evitando de um lado excessiva liberdade e promiscuidade e de outro, mentalidade doentia e desequilibrada, contrária à própria natureza, que nos fez homens e mulheres, para conviverem harmonicamente;
                - o culto da verdade e da sinceridade, a honestidade nos negócios, que sejam de modelo  e padrão na formação da consciência dos filhos.
                Além desses exemplos vivos dos pais, gostaria de acrescentar aqui a formação dada pelos pais sobre o valor e a importância da reta escolha do companheiro ou  companheira para toda a vida, não por razões econômicas ou de prestígio social – tão enganadoras – junto com a serenidade do namoro e do noivado,  etapas de preparação para um matrimônio estável e feliz.
Namoro e noivado devem  ser entendidos como uma serena e suficientemente longa e profícua aprendizagem de uma vida-a-dois. A grande pergunta que cada um dos namorados deve fazer a si próprio é esta: “Dá para eu viver a vida toda com essa pessoa, com seus defeitos, falhas e limitações, somadas às minhas?” Não há namorado perfeito, como  não existe ser humano perfeito. Mas é bom atentar que os defeitos leves no namoro às vezes tornam-se insuportáveis no casamento.
Mais uma palavra  ainda  quero deixar e é sobre a aventura sexual pré-matrimonial com gravidez. Nesse caso, a moça sempre fica na pior situação. E os pais insistem em realizar, a toda pressa, um casamento de emergência, sem futuro, sem amadurecimento no amor, só para salvar as malditas aparências sociais. É mil vezes preferível que a moça permaneça na casa dos pais, mesmo grávida, e se prepare devidamente para uma escolha livre, tranquila e consciente do companheiro de toda a sua vida.

Que as verdadeiras mães cristãs, no exemplo das santas mães de São Luiz de França e de São João Bosco, Branca de Castela e Margarida Occhiena,  velem atentamente pela expressão da vida religiosa de seus filhos, na convicção cristã e na prática  de uma autêntica vivência cristã dos valores da fé.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

CASAIS DE SANTOS

                A canonização pelo Papa Francisco dos pais de  S. Teresinha, Luiz e Zélia Martin, no domingo, 18 de outubro último, em plena realização do Sínodo dos Bispos sobre a Família, constitui-se num  veemente apelo à santidade matrimonial  e numa chamada de atenção a toda a Igreja para a santidade  do  Sacramento do amor, vivido cada dia e cada hora no ambiente familiar.
                Em sintonia com essa realidade, vou apresentar aqui, neste curto espaço, alguns  exemplos de casais, que viveram em  profundidade a  santidade da vida matrimonial.
                Começo naturalmente pelos pais de Santa Teresinha.  Ambos desejaram consagrar-se inteiramente ao Senhor na vida religiosa. Luís, nascido em Bordeaux  (França) em 1823,  tentou entrar no Mosteiro São Bernardo do Monte,  mas não foi  aceito porque “não sabia latim...” Zélia, nascida em 1831, também esteve um tempo  no Mosteiro da Visitação, mas a Superiora achou que ela não era para a  vida religiosa. Encontraram-se em Alençon, ele joalheiro e ela, fabricante da famosa renda de Alençon, onde os dois se casaram  em 1858 e tiveram nove filhos, dos quais quatro morreram na primeira infância e cinco se consagraram a Deus na vida religiosa. Deles, S. Teresinha, que tinha quatro anos quando perdeu a mãe, disse: ” O Bom Deus me deu pais, mais dignos do céu do que da terra.” Na verdade, a vida dos dois foi de muito amor, dedicação total às  filhas, profunda vida espiritual de união com Deus. Declarou certa vez Zélia Martin: “Quero ser santa. Mas  não será nada fácil porque há  muita coisa para se  queimar e a madeira é dura  como uma pedra”. Pais santos dignos de uma filha santa, como S. Teresinha.
                “Eu te amo tanto, tanto,  Pedro, que tu me estás sempre presente, desde a Santa Missa da manhã, quando no Ofertório eu ofereço juntamente com o meu, o teu trabalho,  tuas  alegrias e tristezas; e assim durante todo o dia até o anoitecer” – dizia Gianna Beretta ao noivo Pietro Molla. Filha de pais de profunda fé cristã, teve sete irmãos,  uma pianista, dois :engenheiros, três médicos e uma farmacêutica. O engenheiro ordenou-se sacerdote e veio como missionário para o Maranhão;  dos  médicos também dois se tornaram missionários, uma freira e um padre. Ela  se formou em medicina em 1949 e se especializou em pediatria em 1952. Pedro e Gianna casaram-se em 1955 em Magenta,  na Itália. Gianna teve três filhos: um rapaz e duas meninas.
 Na quarta gravidez,  descobriu-se um fibroma no útero. Aí a  opção: tratar o fibroma com o  risco indireto da morte do feto, para não deixar o jovem marido viúvo e três pequenos órfãos ou não fazer tratamento algum  para garantir a vida do feto? Para  Gianna era clara a opção:  em primeiro lugar, o direito de nascer. Ela diz a Pedro com voz firme e ao mesmo  tempo serena: “Nenhuma hesitação;  escolho e exijo: salvem a criança e não se importem comigo!” Gianna Emanuela nasceu no dia 21 de abril de 1962 e a mãe ainda  a  teve nos braços antes  de morrer  em 28 de abril. Adulta, Emmanuela pôde dizer: “Minha Mãe foi duas vezes minha mãe:  uma quando me gerou,  outra quando deu a vida para que eu nascesse.”
                Outro casal que desejo apresentar aqui é  o do conhecido filósofo francês Jacques Maritain e sua esposa,  também filósofa, a russa RaÏssa Oumançoff.  Ele, de família protestante, nascido em 1882, ela de origem hebraica, judia de  religião, nascida em 1883. Conhecem-se na Sorbonne e casam-se em 1904. Sua casa em   Meudon torna-se ponto de encontro de filósofos, teólogos, escritores, poetas e artistas.  Jacques, um dos animadores da resistência francesa ao invasor nazista,  vai morar nos Estados Unidos de 1940 a 1944. De  ´44 a ´48 Jacques reside em Roma como embaixador da França junto à  Santa Sé. Raïssa falece em 1960 e Maritain participa como observador do Concílio Vaticano II, convidado pelo Papa Paulo VI.
                Raïssa teve papel insubstituível e primário no caminho de Jacques para Cristo.  Sempre em busca da verdade, ele lê um romance de Leon Bloy, seu grande amigo católico, que lhe abre o caminho à conversão. Em 11 de junho de 1905 os dois recebem  o Batismo e Bloy registra o fato: “Este dia equivale à eternidade.” O estudo de S. Tomás de Aquino para Raïssa foi sua segunda conversão. “Tudo ali, diz ela, é pureza da fé,  integridade do intelecto, iluminado pela ciência e pelo gênio.” E testemunha:” O sacramento do matrimônio transforma o  amor romântico num verdadeiro e próprio amor humano, real e indestrutível, um amor verdadeiramente  desinteressado, que não exclui o sexo, mas torna-o sempre mais independente dele: uma completa e irrevogável doação de um para o outro, por amor do outro”. E numa de suas poesias ela canta: “O Deus dos corações/ cancela dos anos a poeira/ e te leva sem rugas nem manchas,/ do amor ao Amor sem ocaso!”                        
                Além dessa última canonização do Papa Francisco, já em 21  de outubro de 2001, São João Paulo II beatificara o casal  Luiz Beltrame  e Maria Corsini. 

Foi  a primeira na história da Igreja para nos mostrar como o matrimônio cristão é santo e faz santos... 

O AMOR NA FAMÍLIA

        O mestre dos juristas brasileiros, Ruy Barbosa, chamado "A Águia de Haia", sentenciou: " A família é a célula mater da sociedade".
         Para a Igreja, a família nasce do amor, constitui-se no amor e  só se mantém                      
no amor. Amar é dar, é doar-se. Não é receber. O amor é essencialmente  gratuito. Nada pede em troca, a não ser amor. O amor, que espera retribuição, não é amor, é investimento. É dar para receber. Alguém que se casa, não se casa só "para  ser feliz" e  sim para fazer "o outro feliz". Seu grande desejo é "criar felicidade".
             O amor na família é quadripartido. Ele possui quatro dimensões, que reproduzem as quatro relações , e é a base que constitui o vínculo familiar. Dele deriva a paternidade-maternidade, o amor dos país para com seus filhos, que faz a comunidade de amor, que é a  família unida. A terceira faceta desse mesmo e único amor, que está no coração da família, é a filiação, que é a resposta de amor dos filhos para com os país, a "pietas" romana. Vem por último a fraternidade, que une os irmãos entre si e transforma a casa num lar de afeto, carinho e compreensão mútua, e produz a união dos irmãos, que vivem em harmonia e sabem perdoar-se, compreender-se e ajudar-se mutuamente.
            O mais precioso fruto do amor humano é o filho. O filho é a fortuna, a preciosidade  e o tesouro de um lar. Nenhum bem material, nenhuma riqueza terrena pode comparar-se a um filho. Um lar sem filhos é um lar vazio. É uma casa triste. É uma família incompleta. Muitas vezes sem culpa dos esposos. Mas um casal sem filhos não deixa de ser um fato triste. O filho é a encarnação do amor do pai e da mãe. No filho, o amor se faz pessoa. Como o Cristo é a encarnação do Verbo, assim o filho que vem à vida é o amor dos dois esposos, que se faz uma criatura humana. O III Encontro Mundial do Papa com as famílias no ano 2000 definiu os filhos "primavera da família e da sociedade".
           Uma palavra ainda sobre dois pecados, repugnantes ao amor na família. São: o  adultério e o aborto.
           O adultério seja do marido, seja da mulher, é igualmente grave, sem nenhuma diferença. Quem pratica adultério - hoje infelizmente tão generalizado - comete, de acordo com a moral católica, pelo menos três pecados: o contra a castidade (violando a santidade matrimonial); o contra a justiça, violando o direito exclusivo e excludente que o cônjuge tem sobre o corpo do outro, e o de perjúrio, renegando o juramento matrimonial, que fez diante do altar de Deus, na presença das testemunhas e recebido pelo ministro, em nome da Igreja.
        O aborto, ou seja a expulsão provocada do feto imaturo do seio materno, é um dos crimes mais hediondos que o direito penal da Igreja conhece. Se levado a efeito, isto é, que não se trate de mera tentativa sem êxito, o cânon 1398 pune este crime (o pecado de aborto cometido com pleno conhecimento do fato e da penalidade correspondente, sem coação ou medo grave) com a pena mais severa do direito penal da Igreja, que é a excomunhão automática, "ipso facto", que o direito chama de "latae sententiae". Esta pena atinge por igual todos os que cooperaram materialmente no efeito obtido (médico, enfermeiro, parteira) ou moralmente de forma eficaz, como o amante, o marido ou os país, que ameaçaram a mulher grávida, obrigando-a a recorrer ao procedimento abortivo. Se sabiam da pena, ficam todos excomungados.
         Tivemos agora no útlimo  domingo, 25, o final do II Sínodo sobre a família. Aguardamos agora as  "propositiones" aprovadas pelos Bispos que serão apresentadas ao Santo Padre para sua definição com uma Exortação Apostólica.
              Não podemos esquecer o ensino de São João Paulo II: " O futuro da humanidade passa pela família." 

   

Um cristão autêntico

No dia 12 de maio passado, ocorreu o centenário de nascimento do Irmão Roger Schutz Marsauche, que conheci no Congresso Eucarístico Internacional de Lourdes de 1981, em belíssima vigília ecumênica de preces,  organizada pelo s jovens dentro da programação do Congresso. Era realmente uma “figura frágil de rosto luminoso” como diz dele o jornal vaticano L´Osservatore Romano. Impressionou-me a transparência mística,  que  iluminava sua pessoa de monge e de cristão.
Em  20 de agosto de 1940, o jovem pastor protestante suíço, Roger Schutz,  de 25 anos de idade, chegava de bicicleta a Taizé, pequena  aldeia no topo de uma colina da Borgonha, perto da famosa abadia de Cluny, na França dividida e dilacerada pela 2ª guerra mundial. Após longo retiro, na solidão e no silêncio do inverno de 1953, ele redigiu a regra de Taizé que começa com as palavras: “Irmão, se te submetes a uma Regra comum, só o podes fazer por causa de Cristo e do Evangelho.  Teu louvor e teu serviço estão já integrados numa comunidade fraterna, incorporada na Igreja.”  Em julho de 1941,  o Irmão Roger encontrara-se com Paul Couturier e Maurice Villain, dois sacerdotes católicos, pioneiros do ecumenismo na França. Deles escreveu: “Penso que hoje compreendi a partir de dentro a posição católica romana destes sacerdotes. Os dois entenderam minha preocupação:  a indiferença dos cristãos diante de nossas divisões.” Surgiu assim a original experiência da uma comunidade de monges cristãos, católicos e de outras denominações cristãs, reconhecida pela Santa Sé  e pelos principais responsáveis das Igrejas e confissões cristãs.
O Irmão Roger começou a acolher todos, judeus perseguidos pelo nazismo, ex-prisioneiros alemães e crianças órfãs da guerra. Um dos símbolos da comunidade é a grande igreja, chamada da Reconciliação, construída em comum por franceses e alemães, que ali acorriam no final dos anos ´50. Nessa época, alguns Irmãos de Taizé visitavam escondidamente os  cristãos sufocados pelos regimes comunistas da Europa oriental.
No Brasil, há também uma experiência de Taizé em Alagoinha, no estado da Bahia: um  mosteiro beneditino ecumênico, que Infelizmente agora passa por grandes dificuldades pela escassez de vocações. Pelo que fui informado há, no momento, somente cinco monges católicos e três protestantes.
Inexplicavelmente, aos 90 anos, o Irmão Roger foi assassinado por um desequilibrado mental  durante a oração da noite de 16 de agosto de 2005. Sucedeu-lhe o monge católico Alois Loser.

Indubitavelmente, o Irmão Roger Schutz era um cristão autêntico...

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O Papa, Cuba e os Estados Unidos

Após atrair as atenções da mídia mundial com seu decreto “motu próprio” Jesus Cristo, o Juiz Clemente,  reafirmando a santidade e indissolubilidade do verdadeiro matrimônio cristão e simplificando o processo de declaração de uma nulidade evidente, o Supremo Legislador da Igreja, o Papa Francisco, voltou agora a atrair as atenções da imprensa mundial na semana passada, de 19 a 26 deste, com sua viagem a Cuba e aos  Estados Unidos. 
Cuba era para a colonização espanhola nas Américas a pérola do Caribe. Cedida aos Estados Unidos em 1898, tornou-se realmente independente em 1902, permanecendo em poder dos americanos a base naval de Guantánamo. Como foi a última colônia perdida na América pela Espanha, dizia-me um amigo que, para consolar-se de alguma perda, os espanhóis dizem: “Eh! más se perdió en Cuba!”
Arrasada e reduzida à miséria pela ditadura castrista, viu-se desamparada após o esfacelamento do Império Soviético, desde a queda do Muro de Berlim em 1969 . Aqui é bom lembrar que  Fidel é ex-aluno jesuíta e rezava o terço em Sierra Maestra, para a vitória da Revolução contra o ditador Fulgêncio Batista.
É claro que o embargo econômico, que os Estados Unidos impuseram a Cuba por décadas, só fez sofrer o heroico povo cubano, porque os líderes comunistas passavam muito bem, sem as esmolas dos americanos. Um alto prelado brasileiro, inclusive purpurado, afirmou num devaneio que Cuba era a realização do paraíso terrestre. Mas uma esclarecida religiosa cubana, que participou em Itaici de uma reunião continental sobre Vocações, me dizia enfaticamente que só falava bem de Cuba quem não residia lá.
A imprensa divulgou que o velho Fidel presenteou o Papa com um livro de Frei Betto sobre Cuba. Frei Betto, nos primeiros anos do governo Lula, ocupava uma sala no Palácio do Planalto, vizinha à sala do Presidente, como seu assessor particular. Mas logo deixou esse cargo e escreveu um livro, intitulado “A Mosca Azul”. Diz-se  que essa mosca, picando uma pessoa,  provoca delírios de grandeza.
Papa Francisco esteve em três cidades cubanas:  a capital, Havana, em Holguin e em Santiago de Cuba, onde venerou a padroeira da Ilha caribenha, Nossa Senhora do Rosário do Cobre e aí se despediu do sofredor e heroico povo cubano.
De  Cuba, o Papa Francisco foi para os Estados Unidos. Cito o insuspeito Michail Gorbachev em seu livro-programa “Perestroika – novas ideias para o meu país e o mundo” : “Os Estados Unidos da América têm uma grande história. Quem pode questionar a importância da revolução americana para o progresso social da humanidade ou o gênio tecno-científico dos EUA e suas realizações na literatura, arquitetura e arte? Tudo isso pertence aos EUA” (pg. 253 da versão portuguesa). Mas os EUA são também a terra da bomba atômica, lançada no Japão, nos estertores da derrota militar, para mostrar à União Soviética (já começava a guerra fria) seu insuperável poderio de destruição. É o País que se arvorou em Polícia mundial, com as absurdas guerras do Vietnã, da Coréia e ainda recentemente, com a intervenção no Afeganistão contra o talibã. Sofreu o atentado contra as Torres Gêmeas e o Pentágono, que mostrou também seu lado fraco.




O Santo Padre teve encontro particular com o Presidente Obama. Nele – dizem os jornais – terá discutido temas como justiça social e econômica, mudanças climáticas e integração de imigrantes. O Presidente, nos jardins da Casa Branca, diante de mais de 10.000 pessoas, elogiou a humildade e simplicidade de Francisco e agradeceu seu apoio inestimável na histórica aproximação, iniciada em 2014 entre Havana e Washington. Papa Francisco falou ainda no Congresso Americano, com 31% de  católicos – o primeiro papa que o faz – e em Nova Iorque, discursou na Assembleia Geral das Nações Unidas, seguindo a tradição de seus três últimos predecessores.
Em Filadélfia, cidade-berço da democracia americana, com a convenção das 13 colônias inglesas numa sala modesta, que ainda hoje se conserva, como em 1775, e o sino da liberdade, o Papa  encerra a Jornada Mundial das Famílias e se despede do continente americano.

Assim Francisco, com sua encantadora simplicidade e extraordinária popularidade, trouxe bênçãos e graças para a América.

Invalidade ou invalidação?

Um matrimônio válido pode ser invalidado, isto é, declarado nulo por um tribunal eclesiástico? Não. A Igreja, após processo judicial, pode declarar que um matrimônio foi inválido, isto é, desde o primeiro momento não existiu validamente?  Sim. Quer dizer, que os nubentes não cumpriram  as condições requeridas para, livre e conscientemente, jurarem mutua fidelidade e cumprimento das obrigações inerentes ao matrimônio.
                Agora, Papa Francisco, em data de 8 de setembro  último, promulgou um documento, que no linguajar canônico se chama “Motu Proprio” - “De própria iniciativa”, intitulado “Mitis Iudex Dominus Iesus” - O Senhor Jesus,  Juiz Benigno”.
                Tendo presente a lei suprema da Igreja, que é a salvação das almas, como diz o cânon 1752 do Direito Canônico, o Papa constituiu um grupo de pessoas, como ele diz, “eminentes por doutrina jurídica, prudência pastoral e experiência forense”, sob a direção do juiz decano da Rota Romana, o mais alto tribunal eclesiástico. O objetivo não é a anulação de matrimônios, mas sim a celeridade dos processos, lembrando o princípio do Papa Gregório IX: “justiça atrasada é justiça negada”.
                As principais novidades são as seguintes: 1) maior rapidez no processo matrimonial. Os casos mais simples, de nulidade evidente, líquida e certa,  podem ser resolvidos diretamente pelo próprio bispo; 2) foi suprimida a chamada “dupla sentença conforme”. Por exemplo: um processo resolvido em Pernambuco, é remetido ao tribunal de Fortaleza,  de segunda instância, que em geral demora demais e muitas vezes contradiz a sentença do Recife. Agora bastará a sentença do tribunal de primeira instância; 3) a primeira instância não precisa ser mais um tribunal, propriamente dito, mas bastará um único juiz, de reconhecida competência no direito canônico; 4) o depoimento das partes, isto é, dos cônjuges, marido e mulher, se for revestido de bastante credibilidade, que produza certeza moral no juiz, fará o que se chama prova plena e dispensará a chamada oitiva de testemunhas, isto é, as oito testemunhas, que hoje são exigidas. Este ponto realmente, dará ao processo grande celeridade..
                Na entrevista que o canonista Edson Sampel deu à Agência de Notícias ZENIT foi  tratada  afinal a questão dos custos. É  questão de difícil solução,  porque hoje impede aos pobres o acesso aos tribunais eclesiásticos. O que o Papa Francisco deseja é que as dioceses assumam as inevitáveis despesas, como os salários dos funcionários dos tribunais.
                Fique claro que o matrimônio verdadeiro, realizado conforme as normas da Igreja, com seriedade. é sempre indissolúvel. E os casamentos que vemos em nossas igrejas do centro da cidade? Nada de preparação espiritual, como a confissão e  a comunhão. Única preocupação: o vestido da noiva, os cinegrafistas, a orquestra e etc .É os que eu chamo  ” shows matrimoniais”.

                Para concluir, fique claro que não existe anulação de matrimônio  válido e sim       declaração da invalidade de um matrimônio nulo, agora apressada pelas determinações do Legislador supremo, o Papa, que entrarão em vigor no próximo dia 8 de dezembro.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

UMA MARQUESA VENERÁVEL


                Em todo o tempo de nossa formação salesiana,  sempre tivemos  idéia bem negativa a respeito da Marquesa Di Barolo,  contemporânea de Dom Bosco. Agora, o Boletim Salesiano de agosto deste ano  surpreendeu com a notícia de que, neste 5 de maio p. passado, o Santo Padre, o Papa Francisco, em audiência com o Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, o salesiano Cardeal Angelo Amato, autorizou a promulgação do decreto pontifício, declarando a Serva de Deus, Júlia Golbert, leiga, viúva, fundadora das Congregações das Filhas de Jesus e das Irmãs de Santana, como possuidora de virtudes heroicas e, portanto, lhe concede o título de Venerável. É o passo último para, com a aprovação de um milagre, atribuído à sua exclusiva intercessão, conferir-lhe o título de Beata.
                Júlia Golbert é a Marquesa Di Barolo,  que nasceu em Maulévrier,  na Vandéia francesa, em 26 de junho de  1786 e, viúva sem filhos,  faleceu em Turim ( Piemonte - Itália) em 19 de janeiro de 1864, sendo uma das figuras femininas turinesas mais carismáticas do século XIX. Casada em 1807 com o Marquês Tancredi Di Barolo, foi amiga dos personagens mais ilustres da sociedade turinesa do tempo, como o rei do Piemonte, Carlos Alberto, o Marquês Cavour e o famoso escritor Sílvio Pellico.  
                Não tendo filhos e profundamente religiosa, decidiu empregar toda sua fortuna  na assistência aos necessitados de Turim. E é aí que se encontra com Dom Bosco, que a essa altura, dedicara sua vida aos jovens pobres e abandonados da capital do Piemonte.
                Excelente biógrafo de Dom Bosco, Pe. Arthur Lenti, nas pgs 465-469 do I volume de sua nova e monumental obra,  em 3 grossos volumes “Dom Bosco, história e carisma”, dá-nos preciosas informações do que ele chama “O confronto com a Marquesa”.
                Dom Bosco começara seu Oratório com os meninos de rua de Turim, funcionando na sacristia de igreja de S. Francisco de Assis, onde encontrara seu primeiro aluno, Bartolomeu Garelli. A Marquesa o havia contratado como um dos capelães – eram três – de suas meninas e freiras e D. Bosco para lá levara cada domingo seus barulhentos meninos. Acontece que os meninos de  Dom Bosco, sempre em aumento, passaram a constituir séria dificuldade pela proximidade com as meninas da Marquesa e  suas obras, todas dedicadas ao público feminino. Então ela, muito preocupada com a saúde de  Dom Bosco e a mistura de suas meninas com os meninos de Dom Bosco, o convida para um encontro, em que lhe faz duas propostas precisas: Tomar um tempo de descanso fora da cidade e, no retorno, deixar o trabalho com os meninos, para dedicar-se exclusivamente às obras da Marquesa, com  aumento de salário. Ela dava a Dom Bosco um  tempo para pensar e decidir.
                Dom Bosco respondeu-lhe que a decisão já estava tomada e era imediata. Ele deixaria o trabalho nas obras da Marquesa, para dedicar-se inteiramente aos seus jovens. E  aí começa sua peregrinação pelos bairros de Turim, até encontrar a casa PInardi – uma palheiro – em Valdocco. A Marquesa, que tanto admirava o “ótimo” Dom Bosco, como diz em uma carta, não deixou de enviar, com certa frequência, expressivas ofertas de  dinheiro, em envelopes anônimos, para ajudar as Obras de Dom Bosco.

                Esta é a verdadeira Marquesa Di Barolo, agora Venerável...

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O PAPA E OS SALESIANOS


                “É este galego que veio comandar-nos?” – perguntou o arcebispo de Buenos Aires sobre o novo Inspetor, que chegara da Espanha, para assumir a Inspetoria Salesiana da Argentina Sul, com sede em Buenos Aires. Acontece que esse “galego” era o Padre  Ângelo Fernandez Artime, hoje Reitor Mor dos Salesianos, 10º Sucessor de Dom Bosco, e o arcebispo, Jorge Mário Bergoglio, é hoje o Santo Padre, o Papa Francisco. “Foi assim o começo das boas relações,” que conforme declarou recentemente o próprio Francisco, até nos momentos difíceis  o arcebispo teve oportunidade de conhecer cada vez melhor o Inspetor salesiano, que se distingue, disse ele, “pelo serviço e pela humildade”.
            Agora, o encontro do Pontífice com a Família Salesiana, na Basílica de Maria Auxiliadora em Turim, nesse mês de junho passado, por ocasião da comemoração do bicentenário do nascimento de Dom Bosco (16 de agosto de 1815) foi definido por ele como  um mergulho na sua infância , um regresso ideal à sua Argentina. “Os salesianos formaram-me para a beleza, o trabalho e a afetividade, por isso, sinto-me tão agradecido” – disse ele. “Gostaria de vos contar a minha experiência com os salesianos” – falou espontaneamente o papa, entregando o discurso escrito ao Pe. Ângelo. E continuou, narrando alguns episódios relativos à sua família. Começou pelo pai, que quando chegou a Buenos Aires, seus primeiros contatos foram exatamente com os salesianos da paróquia de São Carlos. Era salesiano um dos  primeiros amigos de Jorge Mário, Lorenzo Massa, que fundara com alguns meninos de rua uma equipe de futebol, com as cores de Nossa Senhora, vermelho e azul, o “San Lorenzo de Almagro,” que o Papa Francisco comentava com um sorriso, “é o melhor time da Argentina”. Foi salesiano, o Padre Enrico Pozzoli, quem abençoou o matrimônio dos pais de Jorge Mário, e que o batizou também. “Acompanhou meu Pai e a mim por toda a vida. Ia confessar-me com ele, quando adolescente, e guiou a minha vocação e foi quem me orientou no momento de passar do seminário para a Companhia de Jesus.” Sobre este salesiano, o arcebispo Bergoglio escreveu uma memória em seis páginas datilografadas  publicadas pelo L´Osservatore Romano em 2013. Com sua mãe gravemente enferma, Jorge Mário e dois de seus irmãos foram enviados como internos na escola de Dom Bosco onde, disse ele, “aprendeu a amar muito Nossa Senhora”. Após a morte do pai e do amigo Pe. Pozzoli, o jovem Jorge Mário continuou vínculo estreito com os salesianos e todos os anos, no dia 24 de maio, disse ele “levava flores e rezava à Virgem na Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora.” Nessa fala espontânea aos salesianos no bicentenário de Dom Bosco, o Pontífice ainda elogiou no Santo a capacidade  “de educar a afetividade dos jovens, porque sua mãe tinha educado sua afetividade. Regra que é válida também para os salesianos de hoje, aos quais o Papa perguntou se na educação dos jovens citam o exemplo de Mamãe Margarida, “mulher simples e pobre, que fez crescer na afetividade o coração do filho.”



               Continuou o papa Francisco: ”Se é verdade que, no final do século 19, Turim vivia uma sociedade anti-clerical, até demoníaca, e os jovens sem trabalho, sem estudo, viviam pelas ruas, é verdade também que hoje os jovens estão em graves dificuldades, vítimas do desemprego. Dom Bosco recorreu ao esporte e à iniciação às profissões. Depois de dois séculos, os Salesianos devem encontrar uma espécie de educação de emergência. Trata-se de ensinar aos jovens necessitados profissões práticas, que os ajudem a encontrar trabalho, até esporádicos, mas úteis para superar as dificuldades.” E, numa expressão característica  de Papa Francisco, “com o estômago vazio não se pode louvar a Deus”. E continuou: “Não vos esqueçais dos três amores brancos de Dom Bosco:  Nossa Senhora, a Eucaristia e o Papa. Não vos envergonheis de falar de Nossa Senhora, de celebrar a Eucaristia e da Santa Mãe, a Igreja que, pobrezinha, é atacada todos os dias...  O vosso carisma é de grandíssima atualidade. Olhai as estradas, olhai os jovens e tomai decisões corajosas. Não tenhais medo. Como ele fez.  Agradeço-vos tanto pela vossa missionariedade. Obrigado pelo que fazeis na Igreja e  por toda a Igreja.”
          Depois de ter abençoado os jovens presentes, Francisco saudou-os, recordando que “uma das características do verdadeiro jovem que frequenta o Oratório Salesiano é a alegria. Não se pode participar com o rosto triste, com cara de vinagre” – acentuou ele em seu estilo característico. Convidou todos a procurar Jesus, amar Jesus e deixar-se procurar por Ele para O encontrar todos os dias e sobretudo “sempre com alegria”.
                Foi um encontro de um Pai, de um Amigo, de um sincero admirador de Dom Bosco, com seus filhos da Família Salesiana, que vêem nele mais um Pai carinhoso, do que o Pontífice Supremo.


                (Nota: As informações deste artigo foram colhidas no jornal do Vaticano, “L´Osservatore Romano”, e em um comunicado do Pe. Fábio Attard SDB, Conselheiro Geral para a juventude salesiana)

IDEOLOGIA DE GÊNERO

De uns tempos para cá, começou-se a falar em “ideologia de gênero”. Mas o que é isso, afinal? Que importância tem em nosso cotidiano?  Que repercussão essa tal ideologia terá, se aplicada,  na formação de nossa juventude? E afinal, que efeitos esse conceito poderia trazer, se transformado em lei, como pretendem seus fautores mais avançados, para nossa sociedade, que se pretende cristâ?
                  É simples e estarrecedor ao mesmo tempo.  A tal ideologia de gênero, por incrível que pareça, pretende afirmar que a distinção entre os sexos deve ser uma mera escolha de cada um, independentemente de seu aparelho genital,  de sua psicologia específica, de seus gostos e aptidões, que distinguem e sempre distinguirão o homem da mulher e vice-versa.
                Assim, a criança desde seus verdes anos, iria escolher se quer ser menino ou menina, homem ou mulher, sem nada influirem nesta escolha seus órgãos genitais, suas naturais tendências e inclinações. Ninguém nasce homem ou mulher, dizem eles, mas ao longo da vida, vai escolher sua própria identidade. Gênero  -dizem  – é uma construção pessoal, auto-definida e ninguém deve se identificar como homem ou mulher, mas terá que inventar, definir sua própria identidade. Em consequência disso, se ensina que a família é uma instituição antiquada.  Os tempos mudaram – afirmam – e precisamos “abrir a cabeça”.
                O perigo que se corre atualmente é que essa tal “ideologia de gênero” possa ser por força de lei ensinada nas escolas públicas. Desde o ano de 2012, mais de quinze projetos de lei            foram apresentados no  Congresso Nacional, tentando aprovar esta aberração nas escolas públicas do Brasil. Assim, nossas crianças  iriam aprender que elas não nascem meninos ou meninas, mas devem livremente optar por um gênero para si mesmas. Em 2014 – informa o jornal da Arquidiocese do Rio – o Congresso Nacional retirou do Plano Nacional de Educação, em 25 de julho daquele ano, todas as menções da tal “ideologia de gênero”. Este Plano foi aprovado pela Presidente da República com a lei 13.005. No entanto, o Fórum Nacional de Educação, desconsiderando a autoridade do Congresso Nacional publicou, em novembro de 2014, um texto a ser apresentado aos Estados e municípios da Federação, contendo os mesmos termos rejeitados no Congresso Nacional. O texto inclui mais de trinta vezes as equívocas expressões “identidade de gênero” e “orientação sexual”.

                Com o pretexto de combater a discriminação da mulher e dos homossexuais, os fautores da tal “ideologia de gênero” o que desejam  mesmo é desconstruir  a instituição familiar, modificando o conceito cristão de pai e mãe, de filho e filha, do casamento, do sentido religioso da família e de tudo o que compõe seus reais valores. Assim, pretendem destruir o edifício da família no sentido cristão, desconstruindo as idéias religiosas sobre sexo, família e sociedade.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

UM SEMINARISTA MÁRTIR



Motivo grave e emoção profunda, só essas causas poderiam fazer um Cardeal da Cúria romana emocionar-se em público numa cerimônia litúrgica. Foi o que aconteceu com o Cardeal salesiano Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, presidindo em Módena-Itália, em nome do Papa Francisco, a cerimônia de beatificação do jovem seminarista Rolando Rivi, em 5 de outubro passado.
                É um novo mártir da fé que levou seu compromisso com Cristo até o derramamento do sangue. Nasceu em 1931 e, de pequeno, seu sonho era tornar-se sacerdote. Aos 11 anos, entrou no seminário e, como era costume na época, recebeu a veste talar, a batina, que se tornou a partir de então o seu “uniforme”, como ele dizia. Era o sinal visível de seu amor a Jesus e sua pertença total à Igreja. Sentia-se orgulhoso com sua veste talar e a usava no seminário, no campo, em casa. Era o distintivo de sua escolha de vida – dizia - que todos podiam ver e entender. Por causa da confusão do final da guerra na Itália, muitos o aconselhavam a deixar de usar a batina, pelo ódio que os “partigiani”, em parte, comunistas, tinham contra o clero.  Rolando respondia: “Não posso, não devo deixar a minha veste. Não tenho medo, estou feliz por usá-la. Não posso esconder-me. Eu pertenço ao Senhor.”
                No  dia 10 de abril de 1945, pouco mais de um mês do fim da 2ª Guerra mundial, os “partigiani”, cheios de ódio, capturaram Rolando. Ele foi despido, insultado e maltratado com chicotadas, para admitir uma improvável atividade de espionagem. Depois de três dias do rapto, sem que os chefes o soubessem, o jovem foi mutilado e depois assassinado com dois tiros de pistola, um na fronte esquerda e outro no coração.
                “Era muito jovem – disse o Cardeal Amato – para ter inimigos. Para ele, todos eram irmãos e irmãs. Não seguia uma ideologia de morte, mas professava o evangelho da vida. Rolando tinha compreendido bem a mensagem do Evangelho:  Amar também os inimigos, fazer o bem a quem o odiava e abençoar  quem o amaldiçoava. Celebrar o martírio do jovem Rolando é uma ocasião para bradar forte: nunca mais o ódio fratricida, porque o cristão verdadeiro não odeia, não combate ninguém. A única lei do cristão é o amor a Deus e ao próximo. As ideologias humanas desabam, mas o Evangelho do amor nunca tem fim, porque é uma boa nova. A beatificação de Rivi é uma boa notícia para todos. Estamos aqui reunidos para celebrar a vitória da vida sobre a morte, do bem sobre o mal, da caridade sobre o ódio. Do sacrifício de Rolando, concluiu o Cardeal, derivam quatro exortações para nós: perdão, força, serviço e paz. De modo particular, ele dirige-se aos seminaristas da Itália e do mundo, convidando-os a permanecer fiéis a Jesus, a sentir contentamento e quase orgulho pela sua vocação sacerdotal e a testemunhá-la com alegria, serenidade e guarda da castidade.”