sexta-feira, 4 de setembro de 2015

UMA MARQUESA VENERÁVEL


                Em todo o tempo de nossa formação salesiana,  sempre tivemos  idéia bem negativa a respeito da Marquesa Di Barolo,  contemporânea de Dom Bosco. Agora, o Boletim Salesiano de agosto deste ano  surpreendeu com a notícia de que, neste 5 de maio p. passado, o Santo Padre, o Papa Francisco, em audiência com o Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, o salesiano Cardeal Angelo Amato, autorizou a promulgação do decreto pontifício, declarando a Serva de Deus, Júlia Golbert, leiga, viúva, fundadora das Congregações das Filhas de Jesus e das Irmãs de Santana, como possuidora de virtudes heroicas e, portanto, lhe concede o título de Venerável. É o passo último para, com a aprovação de um milagre, atribuído à sua exclusiva intercessão, conferir-lhe o título de Beata.
                Júlia Golbert é a Marquesa Di Barolo,  que nasceu em Maulévrier,  na Vandéia francesa, em 26 de junho de  1786 e, viúva sem filhos,  faleceu em Turim ( Piemonte - Itália) em 19 de janeiro de 1864, sendo uma das figuras femininas turinesas mais carismáticas do século XIX. Casada em 1807 com o Marquês Tancredi Di Barolo, foi amiga dos personagens mais ilustres da sociedade turinesa do tempo, como o rei do Piemonte, Carlos Alberto, o Marquês Cavour e o famoso escritor Sílvio Pellico.  
                Não tendo filhos e profundamente religiosa, decidiu empregar toda sua fortuna  na assistência aos necessitados de Turim. E é aí que se encontra com Dom Bosco, que a essa altura, dedicara sua vida aos jovens pobres e abandonados da capital do Piemonte.
                Excelente biógrafo de Dom Bosco, Pe. Arthur Lenti, nas pgs 465-469 do I volume de sua nova e monumental obra,  em 3 grossos volumes “Dom Bosco, história e carisma”, dá-nos preciosas informações do que ele chama “O confronto com a Marquesa”.
                Dom Bosco começara seu Oratório com os meninos de rua de Turim, funcionando na sacristia de igreja de S. Francisco de Assis, onde encontrara seu primeiro aluno, Bartolomeu Garelli. A Marquesa o havia contratado como um dos capelães – eram três – de suas meninas e freiras e D. Bosco para lá levara cada domingo seus barulhentos meninos. Acontece que os meninos de  Dom Bosco, sempre em aumento, passaram a constituir séria dificuldade pela proximidade com as meninas da Marquesa e  suas obras, todas dedicadas ao público feminino. Então ela, muito preocupada com a saúde de  Dom Bosco e a mistura de suas meninas com os meninos de Dom Bosco, o convida para um encontro, em que lhe faz duas propostas precisas: Tomar um tempo de descanso fora da cidade e, no retorno, deixar o trabalho com os meninos, para dedicar-se exclusivamente às obras da Marquesa, com  aumento de salário. Ela dava a Dom Bosco um  tempo para pensar e decidir.
                Dom Bosco respondeu-lhe que a decisão já estava tomada e era imediata. Ele deixaria o trabalho nas obras da Marquesa, para dedicar-se inteiramente aos seus jovens. E  aí começa sua peregrinação pelos bairros de Turim, até encontrar a casa PInardi – uma palheiro – em Valdocco. A Marquesa, que tanto admirava o “ótimo” Dom Bosco, como diz em uma carta, não deixou de enviar, com certa frequência, expressivas ofertas de  dinheiro, em envelopes anônimos, para ajudar as Obras de Dom Bosco.

                Esta é a verdadeira Marquesa Di Barolo, agora Venerável...