Motivo grave e emoção profunda, só essas causas
poderiam fazer um Cardeal da Cúria romana emocionar-se em público numa
cerimônia litúrgica. Foi o que aconteceu com o Cardeal salesiano Angelo Amato,
prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, presidindo em Módena-Itália,
em nome do Papa Francisco, a cerimônia de beatificação do jovem seminarista
Rolando Rivi, em 5 de outubro passado.
É um novo mártir
da fé que levou seu compromisso com Cristo até o derramamento do sangue. Nasceu
em 1931 e, de pequeno, seu sonho era tornar-se sacerdote. Aos 11 anos, entrou
no seminário e, como era costume na época, recebeu a veste talar, a batina, que
se tornou a partir de então o seu “uniforme”, como ele dizia. Era o sinal
visível de seu amor a Jesus e sua pertença total à Igreja. Sentia-se orgulhoso
com sua veste talar e a usava no seminário, no campo, em casa. Era o distintivo
de sua escolha de vida – dizia - que todos podiam ver e entender. Por causa da
confusão do final da guerra na Itália, muitos o aconselhavam a deixar de usar a
batina, pelo ódio que os “partigiani”, em parte, comunistas, tinham contra o
clero. Rolando respondia: “Não posso,
não devo deixar a minha veste. Não tenho medo, estou feliz por usá-la. Não
posso esconder-me. Eu pertenço ao Senhor.”
No dia 10 de abril de 1945, pouco mais de um mês
do fim da 2ª Guerra mundial, os “partigiani”, cheios de ódio, capturaram Rolando.
Ele foi despido, insultado e maltratado com chicotadas, para admitir uma
improvável atividade de espionagem. Depois de três dias do rapto, sem que os
chefes o soubessem, o jovem foi mutilado e depois assassinado com dois tiros de
pistola, um na fronte esquerda e outro no coração.
“Era
muito jovem – disse o Cardeal Amato – para ter inimigos. Para ele, todos eram
irmãos e irmãs. Não seguia uma ideologia de morte, mas professava o evangelho
da vida. Rolando tinha compreendido bem a mensagem do Evangelho: Amar também os inimigos, fazer o bem a quem o
odiava e abençoar quem o amaldiçoava.
Celebrar o martírio do jovem Rolando é uma ocasião para bradar forte: nunca
mais o ódio fratricida, porque o cristão verdadeiro não odeia, não combate
ninguém. A única lei do cristão é o amor a Deus e ao próximo. As ideologias
humanas desabam, mas o Evangelho do amor nunca tem fim, porque é uma boa nova.
A beatificação de Rivi é uma boa notícia para todos. Estamos aqui reunidos para
celebrar a vitória da vida sobre a morte, do bem sobre o mal, da caridade sobre
o ódio. Do sacrifício de Rolando, concluiu o Cardeal, derivam quatro exortações
para nós: perdão, força, serviço e paz. De modo particular, ele dirige-se aos
seminaristas da Itália e do mundo, convidando-os a permanecer fiéis a Jesus, a
sentir contentamento e quase orgulho pela sua vocação sacerdotal e a
testemunhá-la com alegria, serenidade e guarda da castidade.”