sexta-feira, 31 de julho de 2015

UM SEMINARISTA MÁRTIR



Motivo grave e emoção profunda, só essas causas poderiam fazer um Cardeal da Cúria romana emocionar-se em público numa cerimônia litúrgica. Foi o que aconteceu com o Cardeal salesiano Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, presidindo em Módena-Itália, em nome do Papa Francisco, a cerimônia de beatificação do jovem seminarista Rolando Rivi, em 5 de outubro passado.
                É um novo mártir da fé que levou seu compromisso com Cristo até o derramamento do sangue. Nasceu em 1931 e, de pequeno, seu sonho era tornar-se sacerdote. Aos 11 anos, entrou no seminário e, como era costume na época, recebeu a veste talar, a batina, que se tornou a partir de então o seu “uniforme”, como ele dizia. Era o sinal visível de seu amor a Jesus e sua pertença total à Igreja. Sentia-se orgulhoso com sua veste talar e a usava no seminário, no campo, em casa. Era o distintivo de sua escolha de vida – dizia - que todos podiam ver e entender. Por causa da confusão do final da guerra na Itália, muitos o aconselhavam a deixar de usar a batina, pelo ódio que os “partigiani”, em parte, comunistas, tinham contra o clero.  Rolando respondia: “Não posso, não devo deixar a minha veste. Não tenho medo, estou feliz por usá-la. Não posso esconder-me. Eu pertenço ao Senhor.”
                No  dia 10 de abril de 1945, pouco mais de um mês do fim da 2ª Guerra mundial, os “partigiani”, cheios de ódio, capturaram Rolando. Ele foi despido, insultado e maltratado com chicotadas, para admitir uma improvável atividade de espionagem. Depois de três dias do rapto, sem que os chefes o soubessem, o jovem foi mutilado e depois assassinado com dois tiros de pistola, um na fronte esquerda e outro no coração.
                “Era muito jovem – disse o Cardeal Amato – para ter inimigos. Para ele, todos eram irmãos e irmãs. Não seguia uma ideologia de morte, mas professava o evangelho da vida. Rolando tinha compreendido bem a mensagem do Evangelho:  Amar também os inimigos, fazer o bem a quem o odiava e abençoar  quem o amaldiçoava. Celebrar o martírio do jovem Rolando é uma ocasião para bradar forte: nunca mais o ódio fratricida, porque o cristão verdadeiro não odeia, não combate ninguém. A única lei do cristão é o amor a Deus e ao próximo. As ideologias humanas desabam, mas o Evangelho do amor nunca tem fim, porque é uma boa nova. A beatificação de Rivi é uma boa notícia para todos. Estamos aqui reunidos para celebrar a vitória da vida sobre a morte, do bem sobre o mal, da caridade sobre o ódio. Do sacrifício de Rolando, concluiu o Cardeal, derivam quatro exortações para nós: perdão, força, serviço e paz. De modo particular, ele dirige-se aos seminaristas da Itália e do mundo, convidando-os a permanecer fiéis a Jesus, a sentir contentamento e quase orgulho pela sua vocação sacerdotal e a testemunhá-la com alegria, serenidade e guarda da castidade.”

“MATRIMÔNIO PARA TODOS”




                É assim que chamam o casamento homossexual os que o defendem simplesmente como uma  necessária ampliação dos direitos individuais de cada um de casar-se com quem quiser, seja ele do sexo oposto ou seja de seu mesmo sexo.
                A revista francesa laica “Le débat”, em seu número de julho último, citada pelo L’Osservatore Romano, o jornal do Vaticano, apresenta  amplo estudo sobre o assunto na palavra de quatro especialistas, abordando  o tema,  sobretudo no ponto de vista dos filhos que esses casais gostariam de criar como seus. Teríamos o absurdo de que a criança teria dois pais e nenhuma mãe, ou duas mães  e nenhum pai.
                Paul Thibaud,  filósofo, já diretor da revista “Esprit”, considera o aprofundamento desta questão uma novidade importante, já que a ausência de debate significaria a total privatização, tanto do matrimônio como da procriação. “Cancelar o caráter institucional da família – diz ele  - tem como efeito escolher uma temporalidade breve,  isto é, o contrato atual, as vontades de hoje, os sentimentos do momento,  sem olhar com responsabilidade para o futuro.” Em resumo: e os filhos  como ficam neste tipo de casamento e de família?
                Já a filósofa Nathalie Heinrich acentua que, em nome da igualdade,  está  se submetendo o regime matrimonial  e o estatuto da filiação a graves transformações. Ensina ela que “os direitos sociais não se fundam na igualdade, mas na equidade, e assim, o direito a um filho de qualquer modo, é inaceitável,  porque se baseia numa extensão abusiva do valor da igualdade”.
                O psicanalista Maurice Berger declara que as pesquisas realizadas para averiguar o desenvolvimento  dos  filhos de casais homossexuais  são pouco confiáveis, porque quase todas muito ideologizadas e substancialmente enganosas.
                A psicoterapeuta Catherine Dolto é severa em sua crítica a qualquer forma de gestação realizada por outras pessoas, que não sejam os pais. Ela considera isso como uma forma de “produção de crianças”, que as torna objeto de transação financeira. Como estudiosa da infância, ela rejeita a possibilidade da chamada  “barriga de aluguel”, porque ela sustenta que a fase intra-uterina é decisiva na formação da psique da criança. É sob esse prisma que ela rejeita o casamento homossexual. O jornal do Vaticano cita literalmente a opinião da Dra. Dolto: “Há um vínculo estreito entre a primeira fase da vida humana e a evolução que as crianças tratadas deste modo darão ao quadro social. Não cuidar seriamente das novas gerações é preparar uma barbárie futura” – conclui ela.
                São quatro abalizadas opiniões dignas de nossa reflexão  diante da onda de decisões judiciais favoráveis ao casamento de pessoas do mesmo sexo.

HOMOSSEXUAL E CATÓLICO




Tema realmente espinhoso e difícil de ser abordado, sem ferir suscetibilidades pessoais e normas da moral, é esse do homossexualismo. A revista MARIA AUSILIATRICE, de  Turim, norte da Itália, divulgou em sua edição de julho/agosto deste ano, interessante entrevista com o jovem Philippe Ariño  que, sobre o tema publicou um livro que causou grande impacto, com o título: “Homossexualismo contra a corrente.”
Ariño nasceu na Espanha há 34 anos e vive em Paris, onde ensina espanhol e comunicação. Depois de ter vivido uma série de experiências  e relacionamentos, há três anos deixou o companheiro com quem vivia e,  como diz no subtítulo de seu livro, passou a “viver conforme  a Igreja e ser feliz”.
Disse ele à revista salesiana de Turim: “O mundo não se divide entre  homosssexuais de um lado e heterossexuais do outro, mas sim entre homens e mulheres. A homossexualidade é o sinal do não encontro entre o homem e a mulher e a ruptura dos homens com Deus. É uma ferida que eu escolhi denunciar, para ajudar as pessoas homossexuais a sair do sofrimento da prática da homossexualidade e as pessoas heterossexuais a compreender que a prática da homossexualidade não é outra coisa senão a incapacidade de amar-se na diferença dos sexos.”
                Sobre o impacto que a divulgação de sua nova atitude diante do sexo está causando, ele explicou: “Eu deixei aquele comportamento não por falta de algo melhor,  uma desilusão amorosa ou espécie de orgulho de praticar atos que a moral cristã condena. Deixei porque aqueles atos não me bastavam e hoje, ao invés, a continência me satisfaz totalmente. Não é  o número das escolhas amorosas que determinam o grau de nossa  felicidade, mas sim a escolha integral por uma única pessoa, seja ela o que chamam de sexo oposto, ou seja  Jesus Cristo.”
                E com vigor, ele explica: ”Propor o caminho da continência a uma pessoa homossexual, sem convencê-lo da presença de Jesus na sua vida, que Ele existe, é nosso amor e nossa segurança, equivale a dar-lhe uma corda para enforcar-se.”
                Sobre seu papel na Igreja hoje, esclarece: “Minha condição atual me permite desempenhar um papel, que nenhum padre ou religioso poderia realizar. Tenho visto nos debates e nas palestras que realizo, que meu testemunho pessoal de homossexual, hoje continente,  causa grande impacto nos jovens, nos menos jovens e nos religiosos. Eu, pobre  leigo sem valor, constato que recebi de Deus um carisma especial de libertação para alguns pregadores na Igreja que não teriam exemplos concretos de homossexuais continentes.”
                A revista salesiana de Turim conclui fazendo notar: “Teu testemunho parece não excluir a santidade...”  Ao que, Ariño respondeu: “Sem dúvida! É que Deus se serve de qualquer madeira para acender o fogo. Mirar à santidade significa  apontar para a perfeição e ser santificados por Alguém infinitamente maior que nossas ações e nossos méritos. Estou convicto que se abrirmos nosso coração para acolher o ‘escândalo’ da cruz de Cristo e da virgindade fecunda de Maria, seremos todos – homossexuais ou não – SANTOS!”

BRASIL FUTEBOL CLUBE



                “Um jogo de futebol em uma Copa do Mundo é o fato social total. Expresso na metonímia de que 11 pessoas são o Brasil” – diz o Prof. Edson Gastaldo, da Universidade Rural  do Rio de Janeiro. Sob o título “A Pátria de chuteiras”, o último número da revista da PUC-Minas  traz  longo e profundo estudo sobre o fenômeno cultural que representa o futebol para nossa pátria, começando pelo subtítulo: “Presente no cotidiano do país, o futebol permeia a cultura e celebra a nacionalidade brasileira.” Essa Universidade orgulha-se de ter  tido entre seus alunos o meia Rivelino e o atacante Romário.
                Numa tarde fria de outono de  1895, Charles Miller (1874-1953) reuniu uns amigos e convidou-os a disputarem uma partida de foot-ball, enquanto lhes explicava as regras  do novo esporte  e enchia de ar a bola para a primeira partida desse jogo no Brasil, que até então só conhecia o críquete – foi o que informou o introdutor no Brasil do esporte bretão, em declaração à revista O Cruzeiro de 1952. Por muito tempo ainda, as Ciências Sociais viam o futebol de modo desconfiado. Julgavam-no como o ópio do povo, que servia apenas para ludibriar as classes trabalhadoras e afastá-las das discussões políticas de seus interesses. O maestro Heitor Villa Lobos dizia que o futebol não pegaria no Brasil, sendo mais um modismo, como na época eram o ioiô e o bambolê. É de Graciliano Ramos o texto Futebol é fogo de palha, publicado em 1920.
                Foi a partir do Estado Novo, com o Presidente Getúlio Vargas, que o futebol começou a se popularizar.  A Copa da França em 1938, com a participação de Leônidas, o “diamante negro” e a transmissão radiofônica, empolgou todo o país. A obtenção do 2º lugar, vencido pela Itália na partida final, trouxe enorme popularização para o futebol.  A criançada – eu estava nela – fazia  os famosos álbuns de figurinhas. Comentaristas radiofônicos e cronistas nos jornais, como os irmãos Mário Filho e Nelson Rodrigues, João Saldanha e Armando Nogueira usavam linguagem coloquial, mais próxima do torcedor. Poucos sabem que o nome oficial do Maracanã, palco do final desta Copa, é Estádio Jornalista Mário Filho. Maracanã  é  bairro carioca, onde se situa o famoso estádio.  O governo militar aproveitou bem da conquista do tricampeonato mundial no México, em 1970, com as campanhas ufanistas do slogan Ninguém segura este país  e o hino da Copa Noventa milhões em ação – Pra frente Brasil do meu coração – Salve a Seleção.  Também a campanha Diretas Já!  colocou nos palanques de seus comícios o craque corintiano Sócrates.
                Para esta Copa, o Ministério do Turismo calcula que o Brasil irá receber cerca de 600 mil turistas estrangeiros, além de 1,1 milhão de brasileiros que se deslocarão pelo país para as cidades-sedes do Mundial. Para o arcebispo Anuar Battisti, da pastoral do turismo da CNBB, “Um evento como esta Copa pode ser muito favorável para o nosso país. O grande ganho, diz ele, será tornar nosso país mais conhecido e admirado. Desejamos que os turistas do esporte possam ser também turistas de outras maneiras, tão agradáveis como o futebol.”
                O que me impressiona – e esta é uma opinião inteiramente pessoal – é que se o Brasil não conquistar o primeiro lugar, que obteve já cinco vezes, para muitos será uma desgraça nacional, quase como se uma bomba atômica tivesse caído em território nacional. Mas - pergunto eu antipaticamente - as outras seleções não têm também, como a nossa, o direito de conquistar a Copa do Mundo?...  

PAZ NO FUTEBOL



                Com esse título, o Sr. Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, promoveu a celebração de uma santa Missa, na igreja da Santa Cruz, (a igreja de minha infância) no último dia 2 de junho, em memória ao 30º dia de falecimento do jovem, vítima de louco atentado de um leviano torcedor, que no final de uma partida de futebol no Recife atingiu mortalmente com uma latrina o jovem, cuja família participou consternada da celebração litúrgica. Estavam presentes, além do Sr. Arcebispo, quatro bispos, grande número de fiéis, que lotaram o templo sagrado e os presidentes dos três maiores times de futebol da capital pernambucana. O Sr. Arcebispo explicou, no início da celebração eucarística, o sentido daquele ato de piedade cristã, acentuando a prece que se fazia naquele momento para que reine a paz, e nunca a violência, nas competições esportivas, sobretudo quando o país estava às vésperas da realização em nossa pátria da Copa do Mundo.
                Também a Pastoral do Esporte da Arquidiocese do Rio de Janeiro realizara, no dia 19 de maio, no próprio estádio do Maracanã, encontro interreligioso, iniciando a campanha “Copa da Paz”. Participaram, juntamente com os católicos, outros representantes do cristianismo evangélico, do judaísmo, islamismo, budismo, umbanda e candomblé. Estavam presentes,  além das várias pastorais da Arquidiocese do Rio , também representantes de movimentos sociais, como o “Viva Rio”, a Rede “Desarma Brasil”, e o presidente da Federação Carioca das Torcidas Organizadas.
                A Campanha “Copa da Paz” – como informa o boletim arquidiocesano – faz parte do projeto “100 Dias de Paz”, no qual a Pastoral do Esporte busca grande mobilização da sociedade carioca com o  “Decore sua rua”, a “Tenda da Paz” e uma conferência sobre um mundo sem armas, como construção de um legado social deixado pela Copa do Mundo. Todo esse movimento visa a cumprir o artigo 29 da Lei Geral da Copa, promulgada pela FIFA, “ com divulgação de eventos de campanhas  com temas sociais”.
                Todos concordam que o futebol, como os outros esportes, quando trabalhados de maneira correta são excelentes ferramentas de inclusão social e implantação de valores positivos na sociedade.
As preocupações da Igreja do Brasil, nesta Copa, além da violência nos estádios, a que nos referimos, são:
-  os gastos astronômicos que foram feitos na construção desses elefantes brancos, como as suntuosas arenas de Manaus, Cuiabá e da própria capital federal, com seu “Mané Garrincha”;
-  a exploração sexual por parte de turistas das ingênuas mocinhas de nossas capitais;
- o tráfico humano para prostituição no exterior;
- a violência dos vândalos, infiltrados nas justas e democráticas manifestações populares por  um país melhor e mais feliz.
E agora, a pergunta: “O que se pode esperar do pós-Copa?” Responde o Prof. José Márcio Barros, da PUC-Minas: “O futebol vem se transformando no mundo todo, e o Brasil não fica fora desse processo, em um grande negócio, um grande espetáculo midiático. Cada vez mais admiração, cada vez menos sociabilidade comunitária. Cada vez menos jogo, cada vez mais aposta.” E acrescenta, em resposta à mesma pergunta, o Prof. Maurício Murad, da mesma Universidade: “O que desejaríamos esperar do pós-Copa seria um legado para a sociedade brasileira, sobretudo mais pobre, em termos de segurança, transporte, saúde e educação. Infelizmente o que estamos vendo é que os governos preferem viver e divulgar no discurso oficial o Brasil do “faz-de-conta”, em vez de melhorar a realidade do país, ainda muito desigual e injusta.”