A canonização
pelo Papa Francisco dos pais de S.
Teresinha, Luiz e Zélia Martin, no domingo, 18 de outubro último, em plena
realização do Sínodo dos Bispos sobre a Família, constitui-se num veemente apelo à santidade matrimonial e numa chamada de atenção a toda a Igreja
para a santidade do Sacramento do amor, vivido cada dia e cada
hora no ambiente familiar.
Em sintonia com
essa realidade, vou apresentar aqui, neste curto espaço, alguns exemplos de casais, que viveram em profundidade a santidade da vida matrimonial.
Começo
naturalmente pelos pais de Santa Teresinha. Ambos desejaram consagrar-se inteiramente ao
Senhor na vida religiosa. Luís, nascido em Bordeaux (França) em 1823, tentou entrar no Mosteiro São Bernardo do
Monte, mas não foi aceito porque “não sabia latim...” Zélia,
nascida em 1831, também esteve um tempo
no Mosteiro da Visitação, mas a Superiora achou que ela não era para
a vida religiosa. Encontraram-se em
Alençon, ele joalheiro e ela, fabricante da famosa renda de Alençon, onde os
dois se casaram em 1858 e tiveram nove
filhos, dos quais quatro morreram na primeira infância e cinco se consagraram a
Deus na vida religiosa. Deles, S. Teresinha, que tinha quatro anos quando
perdeu a mãe, disse: ” O Bom Deus me deu pais, mais dignos do céu do que da
terra.” Na verdade, a vida dos dois foi de muito amor, dedicação total às filhas, profunda vida espiritual de união com
Deus. Declarou certa vez Zélia Martin: “Quero ser santa. Mas não será nada fácil porque há muita coisa para se queimar e a madeira é dura como uma pedra”. Pais santos dignos de uma
filha santa, como S. Teresinha.
“Eu te amo tanto,
tanto, Pedro, que tu me estás sempre presente,
desde a Santa Missa da manhã, quando no Ofertório eu ofereço juntamente com o
meu, o teu trabalho, tuas alegrias e tristezas; e assim durante todo o
dia até o anoitecer” – dizia Gianna Beretta ao noivo Pietro Molla. Filha de
pais de profunda fé cristã, teve sete irmãos,
uma pianista, dois :engenheiros, três médicos e uma farmacêutica. O
engenheiro ordenou-se sacerdote e veio como missionário para o Maranhão; dos
médicos também dois se tornaram missionários, uma freira e um padre.
Ela se formou em medicina em 1949 e se
especializou em pediatria em 1952. Pedro e Gianna casaram-se em 1955 em
Magenta, na Itália. Gianna teve três
filhos: um rapaz e duas meninas.
Na quarta
gravidez, descobriu-se um fibroma no
útero. Aí a opção: tratar o fibroma com
o risco indireto da morte do feto, para
não deixar o jovem marido viúvo e três pequenos órfãos ou não fazer tratamento
algum para garantir a vida do feto? Para
Gianna era clara a opção: em primeiro lugar, o direito de nascer. Ela
diz a Pedro com voz firme e ao mesmo
tempo serena: “Nenhuma hesitação;
escolho e exijo: salvem a criança e não se importem comigo!” Gianna
Emanuela nasceu no dia 21 de abril de 1962 e a mãe ainda a teve
nos braços antes de morrer em 28 de abril. Adulta, Emmanuela pôde dizer:
“Minha Mãe foi duas vezes minha mãe: uma
quando me gerou, outra quando deu a vida
para que eu nascesse.”
Outro casal que
desejo apresentar aqui é o do conhecido
filósofo francês Jacques Maritain e sua esposa,
também filósofa, a russa RaÏssa Oumançoff. Ele, de família protestante, nascido em 1882,
ela de origem hebraica, judia de
religião, nascida em 1883. Conhecem-se na Sorbonne e casam-se em 1904.
Sua casa em Meudon torna-se ponto de
encontro de filósofos, teólogos, escritores, poetas e artistas. Jacques, um dos animadores da resistência
francesa ao invasor nazista, vai morar
nos Estados Unidos de 1940 a 1944. De
´44 a ´48 Jacques reside em Roma como embaixador da França junto à Santa Sé. Raïssa falece em 1960 e Maritain
participa como observador do Concílio Vaticano II, convidado pelo Papa Paulo
VI.
Raïssa teve papel
insubstituível e primário no caminho de Jacques para Cristo. Sempre em busca da verdade, ele lê um romance
de Leon Bloy, seu grande amigo católico, que lhe abre o caminho à conversão. Em
11 de junho de 1905 os dois recebem o
Batismo e Bloy registra o fato: “Este dia equivale à eternidade.” O estudo de
S. Tomás de Aquino para Raïssa foi sua segunda conversão. “Tudo ali, diz ela, é
pureza da fé, integridade do intelecto,
iluminado pela ciência e pelo gênio.” E testemunha:” O sacramento do matrimônio
transforma o amor romântico num
verdadeiro e próprio amor humano, real e indestrutível, um amor
verdadeiramente desinteressado, que não
exclui o sexo, mas torna-o sempre mais independente dele: uma completa e
irrevogável doação de um para o outro, por amor do outro”. E numa de suas poesias
ela canta: “O Deus dos corações/ cancela dos anos a poeira/ e te leva sem rugas
nem manchas,/ do amor ao Amor sem ocaso!”
Além dessa última
canonização do Papa Francisco, já em 21
de outubro de 2001, São João Paulo II beatificara o casal Luiz Beltrame
e Maria Corsini.
Foi a
primeira na história da Igreja para nos mostrar como o matrimônio cristão é
santo e faz santos...