quinta-feira, 27 de abril de 2017

UM POLÍTICO SANTO

              Infelizmente, não é um político brasileiro dos nossos dias, políticos da lista do juiz Fachin ou implicados na Operação Lava-jato... Trata-se de Attilio Giordani, político italiano, atuando na Milão do imediato pós-guerra entre 1950 e 1963, como colaborador de Alcides De Gasperi,  chefe do governo  da Itália na época; e depois, como missionário no Brasil.
            Seu arcebispo era o Cardeal Montini. O futuro Papa Paulo VI, realizador do Concílio Vaticano II, iniciado por João XXIII,  definia a Milão da época como “terra de missão”.  E assim a entendeu Attilio, acolhendo o convite que lhe fazia seu arcebispo, de que os católicos milaneses usassem o estilo da fraternidade para com seus irmãos, católicos ou não.
            E foi assim que entre as tantas características excepcionais, que se notaram em Giordani, está a bondade para com todos, a acolhida dos jovens mais difíceis, trabalhando com os salesianos de Milão, no Oratório da capital da Lombardia, e depois no Brasil, como missionário leigo.
            Cooperador salesiano, a terceira família de Dom Bosco, depois dos Irmãos e das Filhas de Maria Auxiliadora, Attilio nasceu em Milão em 3 de fevereiro de 1912. Casou em 1944, com uma jovem de sua paróquia, também ela engajada no trabalho pastoral de leigos, em plena guerra mundial, num dos poucos momentos de possível tranquilidade. Não foi apenas a união de dois corações que se amavam, mas a comunhão de duas existências que condividiam entre elas ideais e idênticas metas de perfeição cristã. Nascem três filhos, para os quais Attilio é um pai sempre presente e afetuoso, em meio a tantas atividades políticas e religiosas.
Attilio é  educador nato no estilo de Dom Bosco. Acabado o conflito mundial de 1939-l945,  assume um emprego  na fábrica de pneus Pirelli, onde trabalha pela manhã, e à tarde, está com os jovens pobres do Oratório Salesiano de Milão.
Sempre alegre e otimista, dá a receita: “Quando te levantas pela manhã, começa teu dia assoviando uma alegre canção”. “Na vida, o que vale não é o que se diz, mas o que se faz. A verdadeira pregação é o viver.” “É preciso demonstrar com a vida aquilo, em que acreditamos”.
 Quando seus filhos, já adultos, vieram para o Brasil na chamada “Operação Mato Grosso”, dos salesianos cooperadores, poucos anos depois, já com 59 anos,  em vez de começar a gozar  merecida aposentadoria na política e na Pirelli,  ele com a esposa acompanha os filhos como missionários leigos. Explica ele: “Se queremos e devemos condividir a vocação dos nossos filhos,  devemos estar dispostos a segui-los nas provas,  para poder julgar com consciência  de causa o que eles estão fazendo.”
“A morte deve encontrar-nos vivos!” -  dizia ele com humor. No dia 18 de dezembro de 1972, em Campo Grande M.S., enquanto falava aos jovens da importância de se doar aos outros, improvisamente cai sobre os ombros do salesiano Pe. Hugo De Censi, fulminado por um enfarte. Tem apenas tempo para recomendar, com incrível lucidez, ao filho que o socorria: “Continue você!”
A Santa Sé reconheceu as virtudes heroicas de Attilio Giordani em 9 de outubro de 2013, já no pontificado do Papa Francisco, dando-lhe o título de “Venerável”, que é  caminho para a beatificação.
(*) É arcebispo emérito de Maceió.


domingo, 9 de abril de 2017

PÁSCOA PARA O BRASIL

              O Brasil está morrendo... Ex-Governador de importante Estado da Federação na cadeia. Ex-Presidente da República acusado de graves crimes. Senadores e deputados presos. Eleições colocadas em dúvida, quanto à sua lisura e validez. Ilustres parlamentares acusados de crimes de corrupção. Empresas de alto porte, com obras de construções públicas no Brasil e no exterior, com seus dirigentes na prisão, acusados de crimes de conchavos e ilicitudes. Operações policiais de alto nível prendem e processam altas figuras da República e da classe empresarial.
            Onde está o famoso livro de minha juventude “Porque me ufano do meu País” do Conde Afonso Celso? Nele, eram decantadas as muitas grandezas de nosso país, o maior de todos, em todas as coisas. Daí se originou a expressão de “ufanista”, para designar aqueles que apregoavam o Brasil como o possuidor de melhor clima, de melhor povo, da melhor e mais alta cultura, enfim, o melhor em todas as coisas...
            O Brasil de nossos antepassados está morrendo... E precisa ressuscitar. Precisa de uma Páscoa.  Precisa que seus filhos de hoje retomem a seriedade na condução da coisa pública. Precisa de administradores honestos e conscientes. Precisa de legisladores, preocupados unicamente com o bem da Pátria e menos com seus interesses e vantagens pessoais ou de seu grupo político.
            E quem poderá realizar essa ressurreição de nossa Pátria? Nós, o Povo. Nós, eleitores conscientes, preocupados também, não com as vantagens que ilusoriamente apregoam e se esperam de certos candidatos, com suas falsas promessas e vãs ilusões. Candidatos que, às vésperas das eleições prometem benefícios para o pequeno município, ou para o bairro de seus eleitores e, uma vez eleitos, esquecem tudo que prometeram ao ingênuo eleitorado e vai cuidar unicamente de seus interessa pessoais.
            Lembro aqui, dos tempos de minha mocidade,  de certo candidato da cidade do Recife, radialista, chamado “o locutor das vovozinhas”, que realizou a construção de um centro social no bairro de seu maior eleitorado, esperando êxito nas próximas eleições. Não sendo eleito e, recebendo poucos votos exatamente em seu presumido maior reduto eleitoral, no dia seguinte ao término da apuração, decepcionante para ele, foi lá e destruiu a golpes de picareta o que havia construído, esperando resultados eleitorais.
            Nós, os cristãos, peçamos ao Senhor da vida que, nesta Páscoa, dê vida nova também as instituições públicas de nossa Pátria, que devem estar a serviço do povo brasileiro...

FRATERNIDADE E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

        A Campanha da Fraternidade dos Bispos do Brasil, nesta Quaresma, vem lembrar a todos os cristãos que é ser fraterno respeitar o meio ambiente e preservar aquilo que os técnicos chamam de biomas. O tema está assim apresentado: “Fraternidade, biomas brasileiros e defesa da vida.” O lema é: “Cultivar e guardar a criação.”
No Brasil há seis biomas, cada vez mais destruídos pela ação do homem, chamado civilizado. São eles: a mata atlântica, a caatinga, o cerrado, os pampas, o pantanal e a mata amazônica. Cada um numa área específica: a mata atlântica em todo o litoral, a caatinga no interior do Nordeste, o cerrado no centro do país, onde está nossa Capital, o pampa no Sul, o pantanal na região do Mato Grosso e a mata amazônica na Amazônia.
A urbanização e a expansão das atividades agropecuárias têm provocado um impacto destruidor sobre os biomas brasileiros, cada vez mais expressivo, iniciado com a colonização. O litoral do nosso Nordeste estava todo ele localizado na mata atlântica e o interior, na caatinga.
O gerente do Jardim Botânico do Recife declarou na imprensa que esta parceria com a Igreja é muito importante. Explicou ele: “Traz outras pessoas para a realidade da conservação de nossa natureza. Aqui, no Jardim Botânico, fauna e flora estão em um ambiente controlado, muito bem conservadas, mas precisamos das pessoas, porque só se conserva o que se conhece e se ama.” Este exemplo do Jardim Botânico do Recife é modelo e estímulo, a que outros Estados  façam o mesmo.
O Papa Francisco, em sua tradicional mensagem ao povo brasileiro por ocasião da abertura da Campanha da Fraternidade no início da Quaresma, afirmou que deve haver relação respeitosa com a vida, o meio ambiente e a cultura dos povos. E acrescentou: “Este é, precisamente, um dos maiores desafios em todas as partes da terra, até porque a degradação do ambiente é sempre acompanhada pelas injustiças sociais. O desafio global pela preservação, pelo qual passa hoje toda a humanidade, exige o envolvimento de cada pessoa com a comunidade. Os povos originários de cada bioma, ou que tradicionalmente neles vivem, oferecem exemplo claro de como a convivência com a criação deve ser respeitosa.”
O presidente da CNBB, Cardeal Sérgio da Rocha, deu exemplos práticos de como cada cristão, espontaneamente, pode realizar mudanças em seu padrão de consumo caseiro, como o cuidado com a água, de beber e de uso higiênico, e com o lixo doméstico.

Tudo isso faz parte da caminhada quaresmal da Campanha da Fraternidade.

O ULTIMO TESTAMENTO


        É esse o título do recente livro de Peter Seewald, contendo a entrevista, que ele chama de última, com a maior figura da Igreja neste século, o  Papa emérito Bento XVI.
            A capa, com a imagem  serena do Papa santo e sábio, reproduz as palavras do Papa Francisco sobre ele: “Antes de ser grandíssimo teólogo e mestre da fé, Bento XVI é um homem que realmente crê e reza; um homem que personifica a santidade: um homem de paz, um homem de Deus.” Disse ainda o papa atual, citado por Seewald: “ Bento XVI é grande pela força e perspicácia de sua inteligência, grande por sua relevante contribuição para a teologia, grande por seu amor à Igreja e às pessoas, grande por suas virtudes e sua religiosidade. Seu espírito se manifestará de geração em geração, cada vez maior e mais poderoso.”
            Diz ainda o autor citado: “A obra do Papa Bento em três volumes sobre Jesus Cristo torna seu pontificado único. Bento XVI criou com isso parâmetros, um vade mecum  imprescindível para a teologia, a catequese e a formação sacerdotal futuras. Em poucas palavras, o fundamento da doutrina da fé para o terceiro milênio. Não sobre a cátedra universitária, mas sobre a cátedra de Pedro, ela pode fechar este círculo. E nenhum outro tinha a mesma formação, biografia, força e inspiração para purificar com escrúpulo científico e realismo místico a imagem de Jesus, desfigurada até o ponto de tornar-se irreconhecível,  e assim torná-la outra vez acessível à humanidade.”
            Assim explica Sewald a finalidade de seu livro: “Que este livro seja uma pequena contribuição para corrigir imagens falsas, trazer luz à escuridão, especialmente as circunstâncias de sua renúncia, que deixou o mundo desconcertado.   O objetivo é compreender melhor o homem Joseph Ratzinger e o pastor Bento XVI, conhecer sua santidade e, acima de tudo, manter aberto o acesso à sua obra, que guarda um tesouro para o  futuro.”
Sobre sua renúncia, explica o Papa Bento nesta entrevista: “Cheguei à decisão no verão de 2012 (na Europa agosto-outubro). Aquela viagem ao México e a Cube havia exigido muito de mim e o médico me proibira de atravessar outra vez o Atlântico. A Jornada Mundial da Juventude devia acontecer no Rio de Janeiro em 2013, e assim ficou claro para mim que deveria renunciar, a tempo de o novo Papa se preparar para o Rio.” Sobre seu sucessor,  diz o Papa Bento: “É alguém que fica muito perto das pessoas. Talvez eu não tenha estado bastante entre as pessoas. Depois reconheço a coragem com que ele aborda os problemas e busca as soluções.”
Com extraordinária humildade e santa concepção de si próprio, declara o Papa emérito sobre seus pontos fracos: “Talvez a falta de talento para uma condução de governo clara e objetiva para as decisões que surgem delas. Neste sentido, sou mais professor, alguém que reflete e se preocupa com as questões intelectuais. O governo prático não é para mim. Prestei meus serviços durante oito anos. Foi muito difícil aquela época, mas em geral também foi um tempo, no qual muitas pessoas reencontraram a fé e houve também um movimento positivo.”

É assim o grande e humilde Papa, que iluminou com sua fé e sua sabedoria  teológica este nosso conturbado século 21.