sábado, 31 de dezembro de 2016

MISERICÓRDIA E MÍSEROS

Papa Francisco encerrou o Ano da Misericórdia com uma Carta Apostólica, intitulada A MISERICÓRDIA E A MÍSERA. Esse título, um pouco desconcertante, é tirado do ensinamento de Santo Agostinho, um dos mais insignes doutores da Igreja, que usa essa expressão ao comentar o conhecido episódio bíblico, registrado no capítulo 8º do evangelho de São João. Nesse capítulo, narra o quarto evangelista que alguns fariseus e doutores da lei trouxeram a Jesus uma mulher colhida em adultério, inquirindo sua opinião se ela deveria ser apedrejada ou não, conforme determinava a lei, que inexplicavelmente perdoava o homem, necessário parceiro nesse tipo de pecado. Ao final, depois de ter o Senhor Jesus convidado que atirasse a primeira pedra aquele que fosse sem pecado, todos se retiraram sem nada fazer, ficando apenas a mulher e o divino Mestre, que Santo Agostinho, com tanta beleza de estilo, define: “Restaram apenas a Misericórdia e a Mísera” (Com. de João 33,5). “Ninguém te condenou, mulher? Então, eu também não te condeno. Vai, e não peques mais!” - concluiu Jesus.
O ano que passou foi para o mundo, e particularmente para nossa pátria, um ano de muita miséria, que a só a infinita Misericórdia de Deus, à qual  devemos recorrer, pode com segurança nos socorrer. No Oriente Médio, guerras sem fim, com a triste imagem, difundida por todos os meios de comunicação, das criancinhas inocentes, mortas, sem nunca terem vivido um tempo de paz; o drama dos refugiados, que fugindo das guerras e dos regimes opressores de seus países de origem, aos milhares e milhares buscam na Europa melhores condições de vida e muitos deles afogam no Mar  Mediterrâneo as esperanças de um futuro melhor; os atentados terroristas em concentrações de pessoas alheias aos problemas políticos, nas grandes capitais europeias, como Paris e Berlim. Em nossa pátria, a roubalheira e a corrupção, atingindo grandes empresas e envolvendo figuras exponenciais do mundo político, como ex-governadores e deputados, ainda no exercício de seus mandatos. Tudo isso criou um ano verdadeiramente de muita miséria.

Confiemos à infinita misericórdia de Deus as misérias de nossa pátria e do mundo de hoje.  Que o Novo Ano seja o Ano da vida e da paz, como todos auguramos; e quero desejar com carinho a todos os meus leitores.

MISERICÓRDIA E MÍSEROS

Papa Francisco encerrou o Ano da Misericórdia com uma Carta Apostólica, intitulada A MISERICÓRDIA E A MÍSERA. Esse título, um pouco desconcertante, é tirado do ensinamento de Santo Agostinho, um dos mais insignes doutores da Igreja, que usa essa expressão ao comentar o conhecido episódio bíblico, registrado no capítulo 8º do evangelho de São João. Nesse capítulo, narra o quarto evangelista que alguns fariseus e doutores da lei trouxeram a Jesus uma mulher colhida em adultério, inquirindo sua opinião se ela deveria ser apedrejada ou não, conforme determinava a lei, que inexplicavelmente perdoava o homem, necessário parceiro nesse tipo de pecado. Ao final, depois de ter o Senhor Jesus convidado que atirasse a primeira pedra aquele que fosse sem pecado, todos se retiraram sem nada fazer, ficando apenas a mulher e o divino Mestre, que Santo Agostinho, com tanta beleza de estilo, define: “Restaram apenas a Misericórdia e a Mísera” (Com. de João 33,5). “Ninguém te condenou, mulher? Então, eu também não te condeno. Vai, e não peques mais!” - concluiu Jesus.
O ano que passou foi para o mundo, e particularmente para nossa pátria, um ano de muita miséria, que a só a infinita Misericórdia de Deus, à qual  devemos recorrer, pode com segurança nos socorrer. No Oriente Médio, guerras sem fim, com a triste imagem, difundida por todos os meios de comunicação, das criancinhas inocentes, mortas, sem nunca terem vivido um tempo de paz; o drama dos refugiados, que fugindo das guerras e dos regimes opressores de seus países de origem, aos milhares e milhares buscam na Europa melhores condições de vida e muitos deles afogam no Mar  Mediterrâneo as esperanças de um futuro melhor; os atentados terroristas em concentrações de pessoas alheias aos problemas políticos, nas grandes capitais europeias, como Paris e Berlim. Em nossa pátria, a roubalheira e a corrupção, atingindo grandes empresas e envolvendo figuras exponenciais do mundo político, como ex-governadores e deputados, ainda no exercício de seus mandatos. Tudo isso criou um ano verdadeiramente de muita miséria.
Confiemos à infinita misericórdia de Deus as misérias de nossa pátria e do mundo de hoje.  Que o Novo Ano seja o Ano da vida e da paz, como todos auguramos; e quero desejar com carinho a todos os meus leitores.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

SIM À VIDA

            Atendendo à convocação pastoral do Sr. Arcebispo, Dom Fernando Saburido O.S.B., o Recife na festa do Morro da Conceição, no  último dia 8 de dezembro, proclamou vigoroso “Sim à Vida!” em resposta ao iníquo habeas corpus 124.306, do Supremo Tribunal Federal, do relator Marco Aurélio, tendo como autor do Voto-Vista o Ministro Luís Roberto Barroso, que em 14 longas páginas tenta tornar lícito o aborto, praticado no caso de interrupção voluntária da gestação no primeiro trimestre. Em palavras simples: o STF julgou que a mulher pode matar o filho, gerado em seu útero, até o terceiro mês da gravidez. É a aprovação do assassinato mais covarde e iníquo, que se possa imaginar. Matar o inocente no próprio seio da vida será sempre crime hediondo e covarde, não importa qualquer pronunciamento dos tribunais humanos.
            O Código penal brasileiro em seu artigo 126 pune, com reclusão de um a quatro anos, provocar aborto com o consentimento da gestante. Reconhece o Ministro Barroso que, “após a 2ª guerra mundial, os direitos fundamentais passaram a ser tratados como uma emanação da dignidade humana, na linha de fim em si mesmo, e não um meio para satisfazer interesses de outrem ou interesses coletivos. Dignidade significa, reconhece ele, do ponto de vista subjetivo, que todo indivíduo tem valor intrínseco e autonomia.” Isso acontece, é óbvio, desde o primeiro momento da existência. Ninguém, nenhuma justiça humana, pode fixar o tempo, em que a pessoa humana deve ser tratada como tal. A autonomia da mulher, como pretende o Ministro Barroso, não está acima do valor da vida. É dever da mulher protegê-la e desenvolvê-la até o pleno desabrochar no nascimento de seu filho. O feto não é parte do corpo da mulher e a moral não depende de uma escolha pessoal. Se assim fosse, o assassino teria suas razões para cometer os mais hediondos crimes. E por que não é crime só nas semanas iniciais, só no primeiro trimestre? Se fossem verdade os argumentos do Ministro Barroso, valeriam para sempre. Fora do caso do estupro, a gravidez depende da escolha da mulher de provocá-la ou não. Mas mesmo no caso do estupro, o feto inocente não pode pagar com a vida o crime do estuprador.
            A Conferência do Cairo em seu capítulo VII, §7.3, citada equivocadamente pelo Ministro, não fala nada de eliminar o feto já concebido. Trata apenas do direito do casal de decidir livre e responsavelmente sobre o número, o espaçamento e a oportunidade de ter filhos.
            O bispo de Palmares, Dom Henrique Soares, que era do clero de Maceió e a quem conferi o sacerdócio, nas redes sociais, denunciou a hipocrisia do STF, quando condena como crime a vaquejada e permite o aborto até o 3º mês. Puxar o rabo do boi num esporte popular é crime, matar o feto no seio materno não.

         Ter ou não ter filhos – podemos até aceitar sob certas condições. Matar o filho gerado – nunca!

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

CUBA SEM FIDEL

    Importante figura do episcopado brasileiro, eleitor do Papa, declarou certa vez em público que Cuba era a realização do paraíso terrestre em nossos dias. Outros membros de destaque na Igreja do Brasil, sobretudo um que ocupou cargo político, no governo Lula, se bem que passageiro, é verdade, fez entusiásticas declarações políticas em favor de Cuba. Já, ao contrário, em um Congresso continental latino-americano, das Vocações sacerdotais, a que participei em Itaici, indicado por  Dom Luciano Mendes de Almeida, na época, Presidente da CNBB, havia uma religiosa de Cuba, encarregada das vocações sacerdotais na Ilha caribenha. Interrogada sobre a verdadeira situação do povo cubano, ela afirmou categoricamente: “Só fala bem da situação social e política de Cuba, quem não vive lá como cidadão comum. Os turistas e personalidades que visitam nossa Ilha, não conhecem a verdadeira, triste e miserável situação do povo cubano.” Verdade é que grande parte da miséria de Cuba se devia ao embargo econômico e alimentar, imposto pelos Estados Unidos e outras potências econômicas do mundo.
                 Fidel Castro, filho de rico fazendeiro, que possuía vastas terras, estudou com os jesuítas, a  Congregação do Papa Francisco,  juntamente com seus irmãos, Raul e os outros, em Santiago de Cuba. Dizia-se, na época, que os guerrilheiros de Sierra Maestra, combatendo a ditadura opressora de Somoza,  empunhavam o terço de Nossa Senhora, juntamente com a metralhadora. Foi esse homem que, dois anos após a vitória sobre a ditadura,  com surpresa geral, declarou que a partir dali Cuba teria o regime comunista de governo. Na verdade, era mais uma opção pela União Soviética, em plena guerra fria, contrariando o velho e arquinimigo, explorador de sua economia, o poderoso vizinho, os Estados Unidos da América.
1                 O regime imposto a Cuba foi desumano e cruel e  levou ao “paredón” de fuzilamento milhares de opositores, que não conseguiram fugir para a vizinha Flórida. A imprensa brasileira divulgou uma estimativa do Cuba Archive, que afirma que o regime castrista foi responsável pela morte de 88 mil cidadãos e destaca que 5.000 foram executados e 2.300 morreram em prisões do regime. Com salários de fome, reduziu a população pobre a um triste estado de abastecimento alimentar, vestuário e transporte. Mas tem um grande mérito: preocupou-se muito com a educação, com notáveis resultados e reduziu notavelmente a praga do analfabetismo, que tinha níveis astronômicos e hoje se acha reduzida a razoáveis índices, comuns na América Latina. Na medicina, vem formando médicos de reputação mundial. Em novembro de 1983, em Luanda, capital de Angola, na guerra civil que se seguiu à independência daquele país africano, ao qual o Brasil tanto deve e não ajudou na libertação do jugo português, pude  ver seus excelentes médicos,  trabalhando em míseros hospitais. Já agora, em tempos de paz, em outubro de 2014, fui atendido na mesma Luanda, na Clínica Atália, por excelente equipe de médicos cubanos, sob a direção da Dra. Clara Guerrero Selde.
                  Em 15 de março de 1990, na posse do Presidente Collor em Brasília, na Câmara dos Deputados, o “Comandante”  Fidel destacava-se dos demais Chefes de Estado presentes, por usar fardamento militar verde-oliva e  com a barba imponente, que lhe dava certo ar de superioridade entre as demais autoridades, todas naturalmente usando traje formal de cor preta.
                   Articulada pelo Papa Francisco, Estados Unidos e Cuba começaram com Barack Obama e Raul Castro certa abertura diplomática em dezembro de 2014, para no ano seguinte restabelecerem as relações diplomáticas, rompidas em 1961.

                    E agora, como será Cuba, sem Fidel Castro? Que Santo Antônio Maria Claret, o santo espanhol, que foi missionário em Cuba, a proteja e a Virgem da Caridade do Cobre,  celestial padroeira da Ilha caribenha de seu Santuário nacional em Santiago de Cuba, abençoe o heroico povo cubano.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

UM FILHO, PRESENTE DE DEUS


Visitei nesses dias um casal amigo, que me chama de “avô”. Estavam muito felizes pela chegada de seu primeiro filho. Fiquei pensando na riqueza e no sentido de receber de Deus esse grande dom:  um filho.
            Escrevi em Maceió em minha Carta Pastoral sobre a Família, a que mais me alegra e a que mais estimo: “Todos devem considerar o filho como a fortuna, a preciosidade e o tesouro de um lar. Nenhum bem material, nenhuma riqueza terrena, pode comparar-se a um filho. Um lar sem filhos é um lar vazio. É uma casa triste. É uma família incompleta. Muitas vezes é sem culpa dos esposos. Mas um casal sem filhos não deixa de ser fato desolador. O filho é a encarnação do amor do pai e da mãe. No filho, o amor se faz pessoa. Como o Cristo é a encarnação do Verbo, assim o filho que vem à vida é o amor dos dois esposos, que se faz criatura humana. O filho é a perpetuação do milagre da criação. Os pais se tornam co-criadores com Deus, que por amor criou o universo. Assim, eles por amor, associam-se à obra criadora de Deus e têm, no filho, a concretização desse amor. Todo filho repete em si a pessoa do pai e da mãe e testemunha ao mundo o amor de seus pais, que o geraram no amor e pelo amor. “
            E a seguir, cito o ensinamento da Conferência Episcopal Latino-americana de Puebla em 1979: “Cristo, ao nascer, assumiu a condição da criança: pobre e sujeita aos pais. Toda criança, imagem de Jesus que nasce, deve ser acolhida com carinho e bondade. Ao transmitir a vida a um filho, o amor conjugal produz uma pessoa, nova, singular, única e irrepetível. O rosto de Cristo transparece no rosto da criança que se deseja e se traz livremente à vida” (Puebla, n.584).
            E concluí na citada Carta Pastoral:  “Aí temos toda a maravilhosa fecundidade do amor, que gera filhos, isto é, criaturas humanas, perpetuadoras do milagre da criação e continuadoras da aventura humana sobre a Terra”.
            Nosso poeta João Cabral de Melo Neto, em seu admirável poema “Morte e vida severina”, escreve com humor: “Conversais e não sabeis que vosso filho é chegado? Estais aí conversando em vossa prosa entretida: não sabeis que vosso filho saltou para dentro da vida? Saltou para dentro da vida ao dar seu primeiro grito; e estais aí conversando; pois sabei que ele é nascido.”

            O filho do rico e o filho do pobre Severino da Maria do Zacarias são o mesmo dom de Deus, que enriquece a família, alegra a sociedade e traz em si as esperanças de um mundo melhor. 

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

A SENADORA E O ACORDO

             Dado meu trabalho fora do continente, só nesta primeira semana de janeiro é que tive o prazer de ler o magnífico pronunciamento da Senadora por Alagoas, Ada Mello, em  28 de novembro último, no Senado Federal, a respeito do acordo, firmado em Roma a 13 de novembro entre a Santa Sé e o governo de nosso país. Confesso que muito me alegrou a clareza da posição assumida pela nossa querida Ada em defesa da constitucionalidade daquele instrumento jurídico, que será ratificado pelo Congresso Nacional e irá agora regular as relações entre Igreja e Estado em nossa pátria.
            Logo de início, nossa Senadora exorcizou a falsa idéia transmitida por algumas notas da imprensa, alusivas “à possível inconstitucionalidade da iniciativa por se tratar de um acordo entre um estado laico e uma instituição religiosa” e fez três preciosas e oportunas citações. Uma, do Ministério das Relações Exteriores, que afirmou que se trata “de documento puramente administrativo que formaliza aspectos já vigentes no dia-a-dia do País.” Outra, da Conferência dos Bispos, que esclareceu que o acordo não concede privilégios à Igreja Católica em detrimento de outras confissões religiosas e respeita integralmente a Constituição brasileira e todo o ordenamento jurídico brasileiro.
A senadora citou ainda um artigo do Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, Ives Granda, distinguindo estado laico, que reconhece o fato religioso como componente constitutivo da sociedade humana e estado ateu, que rejeita toda manifestação religiosa, fixando-se numa concepção materialista do homem e da sociedade. “Laico” é o estado que felizmente separa Igreja de estado e reconhece a liberdade de consciência dos cidadãos  e “ateu” é o estado.que nega Deus como Senhor supremo d o universo e coíbe qualquer manifestação da fé religiosa de seus súditos.
            Santa Sé é o órgão supremo do governo da Igreja, definido no cânon 361 do Código de Direito Canônico e que representa a Igreja Católica na esfera das relações internacionais, diante dos estados e governos civis. Não se confunde nem com o estado da Cidade do Vaticano nem com a cúria romana, que é apenas uma parte dela.
            A Senadora Ada Mello ainda destacou alguns pontos do acordo, como o reconhecimento da missão da Igreja na assistência e solidariedade social (art. 5º) e de seu patrimônio histórico e artístico como patrimônio cultural brasileiro (art.6º) e vários outros mais.
.           Gostaria aqui de registrar o fato novo do reconhecimento da personalidade jurídica não só para as dioceses, como até agora, mas também para as paróquias e institutos da vida consagrada  (art. 3º ) . O ensino religioso é reconhecido “em vista da formação integral da pessoa” (art. 11) e  não sei por que restrito ao ensino fundamental (§ único do art. 11). Notável é a garantia oferecida no art. 13 do “segredo do ofício sacerdotal, especialmente o da confissão sacramental”. É ainda de particular importância o disposto no art. 16, que estabelece a inexistência de vínculo empregatício entre ministros ordenados e fiéis consagrados e suas Dioceses ou Institutos religiosos, “a não ser -  esclarece o acordo - que seja provado o desvirtuamento da instituição eclesiástica”  O artigo 17 parece facilitar a concessão do visto permanente para os missionários estrangeiros convidados pelos Bispos para servir nas dioceses brasileiras.
            Enfim, a celebração deste acordo é motivo de comemoração e de júbilo por essa vitória diplomática da Igreja de Jesus em nossa pátria.



quarta-feira, 16 de novembro de 2016

DISTINÇÕES NECESSÁRIAS

            Parece oportuno esclarecer a distinção entre algumas instituições eclesiásticas, distintas, mas muito ligadas entre si e que com frequência são confundidas, principalmente pelos jornalistas.
            A Igreja Católica, na qual subsiste a Igreja de Cristo, como ensinou o Concílio Vaticano II, é constituída pelos fiéis cristãos batizados do mundo inteiro e organizada como sociedade visível, governada pelo Sucessor de Pedro, o Papa, e os bispos em comunhão com ele.
            A Santa Sé, ou Sé Apostólica,  é o órgão supremo de governo da Igreja Católica, que a representa na esfera das relações internacionais e diante dos estados e governos civis. Mantem delegações junto aos governos e órgãos internacionais, os Núncios Apostólicos e recebe embaixadores.
            O Estado da Cidade do Vaticano, ou simplesmente Vaticano, é o território onde se localizava a residência do Papa. Hoje,  com o Papa Francisco, transferida para a Casa Santa Marta, que é um hotel vizinho à Praça de São Pedro. Abrange:  a patriarcal Basílica de São Pedro com sua imensa praça e algumas estruturas e serviços da Santa Sé, como a Poliglota Vaticana, a redação e impressora do L´Osservatore Romano, a paróquia de Santana e outros. Mede menos de um quilômetro quadrado, exatamente 0,44 km ² e é menor que o terreno reservado do Santuário de Aparecida,  em São Paulo.  Foi criado pelo Tratado de Latrão, entre o governo italiano e a Santa Sé, chamados Pactos Lateranenses, em 11 de fevereiro de 1929, como Estado independente. Goza de exclusiva soberania, com o privilégio da extraterritorialidade dentro da cidade de Roma. Tem serviço de correios, confere cidadania, atualmente a cerca de 400 pessoas, incluindo  aí os Cardeais. É sujeito de direito público internacional, sendo representado nas relações internacionais pela Santa Sé, da qual se distingue. Com freqüência, os jornalistas confundem Vaticano com Igreja Católica ou Santa Sé.
            A Cúria Romana é o complexo das instituições presididas pelo Sumo Pontífice que servem à Igreja. É  composta da Secretaria de Estado, congregações ou dicastérios romanos, os conselhos pontifícios, os três supremos tribunais eclesiásticos  (Penitenciaria Apostólica, Signatura Apostólica e Rota Romana) e de outros departamentos, organismos e comissões.
 Há ainda as instituições vinculadas à Santa Sé, como o Arquivo Vaticano, a Biblioteca  Apostólica, os Museus Vaticanos, a Tipografia Poliglota, a Livraria Editora, a Rádio Vaticana e o Centro Televisivo.
Podemos acrescentar aqui a Casa Pontifícia, que, pelo menos até o último pontificado, cuidava das audiências, programadas para receber os bispos nas visitas chamadas “ad limina” e outras audiências a grupos ou personalidades; cuidava ainda das viagens programadas pelo Sumo Pontífice, suas  refeições e seu vestuário.
            Todos esses são serviços e organismos, que podem mudar pelo evoluir dos tempos, as vicissitudes humanas e as contingências históricas. Permanece viva pelos séculos a Igreja de Jesus, santa e pecadora, mas vivificada pela força do Espírito, portadora  da graça e da santidade, que seu Divino Esposo incessantemente lhe comunica para santificação do mundo pelos séculos sem fim.    


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O ROSTO DA MISERICÓRDIA DE DEUS

                    Numa conferência de imprensa no Vaticano, a 2 de setembro deste ano, o brasileiro Marcílio  Haddad  Andrino narrou para a imprensa mundial o milagre de sua inexplicável cura, de  graves abcessos cerebrais, obtida em 2008 pelas suas orações com uma relíquia da Madre Teresa de Calcutá, aprovado pela Congregação dos Santos, da Santa Sé..                                                                         Apesar de sua milagrosa cura, ,os médicos ainda advertiram a ele e à sua esposa, Fernanda Nascimento Rocha,  que os dois teriam menos de 1% de possibilidade de ter filhos. Mas hoje o feliz casal comemora já o nascimento de duas crianças, que Marcílio e a esposa consideram como “uma extensão do milagre” da nova santa da Igreja.
 Já tida como santa em vida, foi beatificada pelo Papa, que a conhecera pessoalmente e era seu grande amigo e admirador,  S. João Paulo II, em 19 de outubro de 2003, já no ocaso de seu pontificado.
                Em 4 de setembro deste ano, diante de uma multidão, calculada em 120 mil fiéis, na praça de S. Pedro, no Vaticano, o Papa Francisco canonizou no ano da misericórdia aquela que  foi considerada o rosto humano da misericórdia de Deus.
                “De sangue, eu sou albanesa Gonxha  (Inês)  Bojaxhiu;  de cidadania, sou indiana; de religião, sou católica; por minha missão, pertenço ao mundo inteiro; mas o meu coração não pertence senão a Jesus” – disse ela em certa ocasião. Em Dublin, na Irlanda, em 1928, entra na Congregação das Irmãs de N. Sra. de Loreto e é enviada para a India onde, de início, se dedica à educação de meninas de classe alta. Transferida depois para Calcutá, vê de perto a miséria mais chocante da India. Aí, em 10 de setembro de 1946, numa viagem de trem, em meio à oração, recebe claramente o convite do Senhor Jesus para se dedicar ao serviço dos pobres. Ao cabo de um ano, obtém da Santa Sé a permissão de viver fora da comunidade. Deixa o hábito das Irmãs de Loreto e passa a usar um sári branco, veste típica das mulheres indianas. Em 1950, o Papa Pio XII aprova a nova Congregação com o nome de Missionárias da Caridade, mas já a partir de março do ano anterior,  muitas jovens de famílias ricas haviam deixado o Colégio de Calcutá para se unirem à Madre Teresa no serviço total e abnegado aos pobres.
                “O que os pobres mais sofrem – diz Madre Teresa - é o de não sentir amados. Para todas as doenças há remédios, mas para o estado de abandono em que se sentem os pobres e miseráveis, só o se sentir amados é que lhes dá a verdadeira cura.”
                “O fruto do silêncio é a oração. O fruto da oração é a fé. O fruto da fé é o amor. O fruto do amor é o serviço. O fruto do serviço é a paz” – ensinava Madre Teresa em 1979.
                Defensora intransigente da vida, fiel à doutrina da Igreja que condena a contracepção, Madre Teresa disse a muitas mulheres que não queriam manter os filhos : “Dê-me seu filho que eu cuidarei dele”. Aconselhava a oração: “Senhor, dai-nos a coragem de proteger a criança que está para nascer!.” Ela exclamou no memorável discurso, que pronunciou em Oslo, na recepção do Nobel da Paz, em 10 de dezembro de 1979: “Senhor, dai-nos a coragem de proteger a criança que está para nascer! O maior destruidor da paz hoje é o crime cometido contra a criança inocente, que está para nascer. Se uma mãe pode matar seu filho, no seu próprio seio, o que impede de nos matarmos uns aos outros?” Ainda no discurso de Oslo: “Eu vos convido hoje a tomar uma firme resolução: Nós iremos salvar todas as criancinhas. Para todas as crianças que estão para nascer, nós iremos dar-lhes a chance de viver.”
                Papa Francisco em sua canonização, em 4 de setembro últmo, chamou-a: “Mulher da caridade; Mulher da misericórdia”. E o Card. Piero Parolin,  Secretário de Estado do Santo Padre, que presidiu à Santa Missa na praça de São Pedro, no dia seguinte, que por coincidência era a primeira festa litúrgica da nova Santa, disse na homilia: “Madre Teresa gostava de se definir ‘um lápis nas mãos do Senhor’. Mas que poemas de caridade, compaixão, conforto e alegria soube escrever aquele pequeno lápis! Poemas de amor e de ternura para com os mais pobres entre os pobres, aos quais consagrou a sua existência!” Inspiradas palavras do Secretário de Estado a respeito da Santa da Misericórdia e da Vida!

                Em março de 1967, a obra de Madre Teresa é acrescida do ramo masculino: a Congregação dos Irmãos Missionários. E em 1969, nasce a Fraternidade dos colaboradores leigos das Missionárias da Caridade.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

O POVO VAI ÀS URNAS

            No pleno exercício de seu direito democrático, o povo brasileiro, neste domingo 2, foi às urnas para escolher seus dirigentes em nível municipal.
            Não é verdade o que escreveu o alemão Fr. von Schiller em seu Demetrius: “Os votos deviam ser pesados e não contados.” O voto do pobre, do não-letrado, vale tanto quanto o voto do doutor, do rico e do poderoso. Assim é, ou deve ser a democracia. Com fina ironia, escreveu Chesterton em 1931 no New York Times: “Democracia significa governo dos sem-educação, enquanto que aristocracia significa governo dos mal-educados.”                            
            É pelo voto, popular e livre, que o povo exerce seu direito de escolha de seus dirigentes. No caso desta semana, o povo  escolheu aqueles que mais de perto devem trabalhar pelas necessidades imediatas de seu município, o que podemos resumir em segurança, saúde, educação e mobilidade, que ó transporte público.
            O voto devia olhar não a propaganda que foi feita, tantas vezes enganosa, mas a real qualidade dos candidatos e, sobretudo, se já exerceram alguma função pública, como é que se comportaram nela. Com frequência nesse nosso Brasil, nós vemos péssimos governantes e corruptos legisladores serem reeleitos inúmeras vezes e se perpetuarem no poder, sempre enganando o povo com promessas falaciosas.
            As eleições são a grande oportunidade, de que o povo dispõe, para  mudar a situação social e política, nesse caso, em seu município. É o interesse e o bem-estar de sua família que estão em jogo. São os seus direitos à saúde pública, à educação de qualidade, à segurança eficiente e à mobilidade digna e segura, que o eleitor consciente deve exercer com coragem, livre e independente da propaganda política, tantas vezes enganosa.

            Como cristãos, pedimos que a Rainha do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, proteja e abençoe os eleitos para felicidade e bem-estar de todo o nosso povo, sobretudo os pobres e humildes, que não têm força nem amparo para fazer respeitar seus direitos.

NATAL SALESIANO

           Com o sugestivo mote “Salesiano – história traduzida em excelência”, a Obra Salesiana de Natal comemorou em grande estilo, no último dia 20 de setembro, os 80 anos da presença salesiana em terra potiguar.
         Foi nessa data em 1936, que os primeiros salesianos, Padre José Bezerra e o irmão coadjutor Paulo Gasco, chegaram à capital do Rio Grande do Norte, a bordo do navio “Pedro II”, para receberem a generosa doação da residência – com seus belos jardins – do primeiro benfeitor natalense dos Salesianos: o casal Juvino César Paes Barreto e D. Inês Augusta Paes Barreto.
         Coadjuvado pelo ilustre pesquisador Luiz da Câmara Cascudo, Pe. Bezerra ia tornando conhecida a figura de Dom Bosco e a obra salesiana pelas paróquias de Natal, com a exibição dos “filmines Don Bosco” – projeção de slides, com palestras informativas sobre o Santo Educador e sua obra pelo mundo.
         Foi só em 1939 que teve início o chamado Externato Salesiano São José. O ano de 1941 significou marco importante na história da obra salesiana em Natal. Foi a transferência para lá do curso de filosofia da Inspetoria Salesiana do Nordeste. Isso significou a presença de jovens estudantes de filosofia salesianos (que o arcebispo Dom Marcolino chamava de “meus seminaristas”), professores de alto nível, como o Pe. José Pereira Neto, mestre de filosofia,  e a biblioteca do Instituto, com livros de valor de filosofia, teologia, história da Igreja e Sagrada Escritura. Infelizmente, essas vantagens cessaram com a transferência do curso de filosofia para a Faculdade Salesiana de Lorena, São Paulo.
         Os anos de 1972 a 1974 tiveram significado especial na história do colégio salesiano de Natal. Nesses anos, providenciou-se uma melhora significativa no professorado, devidamente remunerado; criou-se o chamado curso científico, hoje, ensino de nível médio, e foram recebidos alunos do sexo feminino, inicialmente só no científico e progressivamente em todas as séries, o que significou expressivo aumento das matrículas, ampliação do prédio e feliz repercussão na sociedade natalense.
         Hoje, aos 80 anos de vida fecunda, a obra salesiana no Rio  Grande do Norte conta ainda com outro colégio em Parnamirim, o “Dom Bosco”, uma obra social no bairro do Gramoré em Natal  e uma paróquia em Areia Branca.
         A solenidade comemorativa dos oitenta anos do “São José” foi brilhantíssima, sob a direção do Pe. Robson Barros da Costa, com uma missa solene, presidida pelo Padre Inspetor, Luiz Pessinati, e a participação de dois arcebispos eméritos: Dom Matias Patrício de Macedo e Dom Edvaldo G. Amaral SDB, ex-diretor do Colégio São José. Após a missa, houve a premiação dos funcionários da Casa, homenagem aos ex-diretores e a convidados especiais, entre os quais o prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves, ex-aluno do “São José” nos anos de 1973 a ´75.

         É São João Bosco abençoando e protegendo o labor de seus filhos na terra de Nossa Senhora da Apresentação.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

A SANTA DE CALCUTÁ

       “As mãos que ajudam são mais sagradas que os lábios que rezam “ – nessas palavras está com singeleza todo o pensamento espiritual e prático da Madre Teresa de Calcutá – hoje Santa Teresa.
         A um jornalista que lhe perguntou o que se deveria fazer para reformar o mundo, ela respondeu: “Você e eu devemos nos reformar, e já é um bom começo...”
         Agnes Bojaxhiu, seu nome de batismo, nasceu em 26 de agosto de 1910 na Albânia, no Leste europeu. Aos 18 anos, entrou na Congregação das Irmãs de Loreto em Dublin, na Irlanda. Após os votos, foi enviada para a Índia, onde era professora e depois  diretora de um colégio para meninas de boas famílias em Calcutá. Foi numa viagem de trem, que ouviu um chamado interior para se dedicar aos pobres e necessitados, que ela via por toda a India. No dia 8 de agosto de 1948, com aprovação do arcebispo de Calcutá, deixou a Congregação, passando a usar um sári branco, debruado de azul com uma pequena cruz no ombro. É a roupa típica das mulheres indianas.
         A partir de março de 1949, começaram a aparecer, em bom número, vocações entre suas antigas alunas  do Colégio de Calcutá; algumas filhas de famílias ricas, dispostas a colocar sua vida, sob a direção de Madre Teresa, a serviço dos pobres e miseráveis da Índia. Em 7 de outubro de 1950, foram aprovadas pela Santa Sé as Missionárias da Caridade, como foram chamadas as Irmãs de Madre Teresa. Sua Congregação espalhou-se pelo mundo, sempre a serviço dos pobres.
         Madre Teresa, em sua humildade e simplicidade, teve o reconhecimento do mundo, que não conseguiu alterar seu perfil  de humilde servidora dos pobres. Disse a um homem que queria desfazer-se de seu filho: “Se não quer criar seu filho, me dê que eu cuido dele.”
         Tive a sorte de vê-la de longe, num estádio, durante o Congresso Eucarístico Internacional de Filadélfia, nos Estados Unidos, em 1975.
         Recebe o Prêmio Nobel da Paz em 1979. No ano seguinte, recebe o prêmio de  distinção especial de serviço público dos Estados Unidos. O Presidente Reagan confere-lhe a Medalha Presidencial da Liberdade.  E até a União Soviética, em 1987,  condecora-a com a Medalha de Ouro do Comité Soviético da Paz. Várias Universidades ao redor do mundo conferiram-lhe títulos “honoris  causa”. Foi amiga da Princesa Diane, da Inglaterra, que a considerava uma santa e naturalmente foi muito criticada por essa amizade.
         Tudo isso – é importante salientar -  não abalou a simplicidade e humildade inalteradas de Madre Teresa.

         Faleceu a 5 de setembro de 1997 e o Papa enviou seu Secretário de Estado, Cardeal Ângelo Sodano, para presidir suas exéquias. Foi beatificada por S. João Paulo II em 2003 e  em 4 de setembro deste ano, foi canonizada pelo Papa Francisco. È agora Santa Teresa de Calcutá, a mãe dos pobres e miseráveis do mundo inteiro.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

SANTA EDITH STEIN

            Êste título está errado...Trata-se de Santa Teresa Benedita da Cruz. Nascida em 1891 na Breslávia, região da Alemanha, de família judia, Edith Stein, de inteligência brihante e vivaz, era apelidada na família de Die Fluge, “A Inteligente”. Aos 12 anos de idade, abandonou a fé de seu povo, dizia ela, para afirmar-se como “um ser autônomo”. Aos 21, declarou-se agnóstica, justificando “sinto-me incapaz de acreditar na existência de Deus.”
            Procurou na filosofia fenomenologista de Husserl, de que foi assistente, a resposta ao seu anseio pela verdade. Abandonou essa filosofia e fez de Tomás de Aquino seu mestre para encontrar a verdade.
            É muito interessante seu sincero itinerário em busca da verdade. Dois fatos reais iluminaram sua decisão definitiva. Uma visita de pêsames à jovem viúva de um  colega filósofo, morto na guerra, causou-lhe espanto. Encontrou-a aflita certamente, mas resignada pela sua fé na vontade de Deus. Escreveu depois Edith: “Foi o meu primeiro encontro com a Cruz, minha primeira experiência da força divina que dimana da Cruz para todos aqueles que a abraçam com fé e esperança.”
            A segunda experiência foi decisiva. No verão de 1921, Edith estava à noite na casa de uns amigos. Foi à biblioteca e retirou o primeiro livro, que encontrou para passar parte da noite, antes de adormecer. Era A Vida de Santa Teresa de Jesus, escrita por ela mesma. Leu-o a noite inteira e ao amanhecer exclamou para si mesma: ESTA É A VERDADE!
            No mês seguinte, batizou-se e tornou-se católica.
            Edith Stein havia encontrado a Verdade por que tanto suspirara. ”A Cruz não é um fim em si mesma;  é a arma poderosa de Cristo. O amor sem a verdade e a verdade sem o amor são a negação total da verdade. Mas a prova suprema do amor deve passar pela experiência do Getsêmane e do Calvário.”
            Em 1933, Edith entrou no Carmelo de Colônia com o nome de Teresa Benedita da Cruz. Teresa – porque carmelita e foi pela vida de S. Teresa que encontrou a Verdade, Benedita – pela sua admiração pelos beneditinos. E a Cruz – porque foi por ela que encontrou a Verdade.
            Com o advento do nazismo e a feroz perseguição aos judeus, ela tão conhecida em toda a Alemanha pelo tempo em que fazia palestras filosóficas por todo o país, fugiu para um Carmelo na Holanda com sua irmã, que a acompanhara como monja.
            Em l942, os nazistas capturaram as duas, que morreram nas câmaras de gás de Auschuitz em 9 de agosto daquele ano, que é o dia de sua festa litúrgica.
            São João Paulo II canonizou-a em 1998 e fê-la também copatrona da Europa com S. Catarina de Senna e S. Brígida da Suécia.
Declarou-a eminente filha de Israel e filha da Igreja.
            Na verdade, Edith Stein gloriava-se diante dos católicos de ser judia e diante dos judeus de ser católica. Não era orgulho, mas a satisfação de ter conhecido as duas faces da moeda e de ter chegado a Cristo Verdade!


JUDIA, CATÓLICA E SANTA

É Edith Steiin - Santa Teresa Benedita da Cruz. Personalidade complexa foi, na Universidade alemã de Gotting, colaboradora do filósofo Husserl, criador da fenomenologia. Ele ensinava que “era necessário ir às coisas e investigar o que elas dizem de si mesmas para obter certezas que não resultem de teorias pré-concebidas”. Seu mestre disse de Edith que nela havia sempre algo de absoluto.
            Edith vivia em busca da verdade, mas da verdade absoluta. Nascida judia em 1891, aos 12 anos, abandonou a fé de seu povo. Aos 21, declarou-se agnóstica: “Sinto-me incapaz de acreditar na existência de Deus.” Foi aí que encontrou o filósofo Husserl e tornou-se conhecida em toda a Alemanha, com palestras que fazia sobre a filosofia do fenomenologismo. Sempre intelectualmente inquieta, deixou Husserl e tomou como seu segundo mestre São Tomás de Aquino.
            Interessante seu itinerário espiritual em busca da verdade e seu encontro com a cruz de Cristo. Duas etapas preciosas e decisivas. Foi visitar uma jovem viúva, que havia perdido o esposo na guerra,  colega filósofo de Edith. Encontrou uma jovem senhora, sofrida certamente, mas serena e resignada pela fé cristã. Escreverá mais tarde Edith: “Foi meu primeiro encontro com a Cruz, minha primeira experiência da força divina, que emana  da Cruz e se comunica àqueles que a abraçam.”
            A segunda experiência foi a definitiva. No verão de 1921, Edith foi passar a noite em casa de uns amigos.  Como sempre, muito estudiosa, foi à biblioteca da casa e tomou o primeiro livro que lhe caiu nas mãos. Era a Vida de Santa Teresa de Jesus, escrita por ela mesma. Passou a noite inteira absorvida na leitura daquela autobiografia. Ao amanhecer, terminou de ler o livro e exclamou para si mesma: ESTA É A VERDADE!  Estava convertida...Batizou-se no mês seguinte, tornando-se católica.
            Mas só em 1933, entrará no Carmelo com o nome de Teresa Benedita da Cruz. Teresa – porque era carmelita e devia sua conversão também à leitura da vida de S. Teresa. Benedita – por sua estima aos beneditinos, seus mestres espirituais. Da Cruz – porque sua espiritualidade é toda centrada na Cruz de Cristo.
            Edith encontrara a verdade. Dirá depois: “Jesus Cristo é o centro da minha vida. Jesus Cristo, e este Crucificado. O Senhor Jesus é o Senhor da glória que nos salva no sofrimento, na dor, no opróbrio da Cruz.”
            Com o advento do nazismo e a cruel perseguição aos judeus, ela fugiu para a Holanda com sua irmã, Rosa,  também carmelita. A 9 de agosto de 1942, encontrou o martírio nas câmaras de gás de Auschwit, junto com sua irmã.

            Em 1998, foi canonizada por S. João Paulo II, que a declarou co--patrona da Europa com S. Brígida e S. Catarina de Senna. Sua festa litúrgica é a 9 de agosto, dia de seu martírio.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

MARATONA DA PAZ

A grande imprensa está toda ocupada na brilhante realização das Olimpíadas do Rio, cuja inauguração, na sexta-feira, 5 deste mês, encantou o mundo e cobriu de glória o Comité Olímpico brasileiro, pela perfeição da realização e deslumbramento das apresentações. A alma nacional ficou lavada de alegria diante do mundo, após tantas notícias tristes do nosso país pela corrupção e roubalheira, que atingiram figuras notáveis da República.
Entre as provas tradicionais está a maratona. A feminina será no domingo, 14 de agosto, e a masculina, no domingo seguinte, 21 deste mês. A maratona celebra o heroísmo do corredor grego Feidípides, que em 490 a. C., por ordem do general Milcíades, correu os 42 quilômetros da planície de Maratona para Atenas, a fim de levar a notícia da vitória grega sobre os persas, pagando com a vida seu esforço hercúleo e seu patriotismo.
Mas em 30 de abril de 2004, uma sexta-feira, na Terra, que os cristãos chamam de Santa, mas na qual a violência desde o início deste século já fez milhares de vítimas mortais, realizou-se também uma Maratona toda especial. Chamou-se a Maratona da Paz. Trinta pessoas apenas, entre europeus, israelenses e palestinos, se puseram a correr, não contra um cronômetro, que assinalasse um vencedor, coroado de louros e premiado com uma medalha de ouro, mas sim contra o nosso tempo, feito de guerras e violências, de terrorismo e massacre de inocentes. Saíram de Jerusalém (“cidade da paz” em seu significado etimológico) para Belém (“cidade do pão”) que, há dois mil anos atrás, também presenciou um massacre de inocentes, bem menor do que os atuais.
Os corredores desta original Maratona traziam todos numa camiseta de várias cores a palavra PAZ, escrita no peito em italiano ou hebraico moderno ou árabe. Passavam desarmados diante dos fuzis e metralhadoras apontadas para eles. Sua música, a dos tênis sobre o asfalto, era sua única arma, junto com a alegria de seus corações. Se a Paz é um dever de todos, eles colocaram a seu serviço suas forças, suas mentes, seu suor nos dez quilômetros que separam Jerusalém de Belém, duas cidades sagradas para os cristãos.  Mas aqueles poucos, naqueles poucos quilômetros, atravessaram um abismo imenso de incompreensões, ódios raciais, vinganças cruéis, mortes violentas e dramas já quase seculares.
Os israelenses não citam a palavra Palestina, nem os palestinos citam Israel. Os israelenses não puderam chegar ao ponto final. Deviam voltar do chamado “check point”. Os palestinos não partiram de Jerusalém,  mas de um ponto político, chamado fronteira militar. A maratona não teve grande publicidade prévia por razões de segurança. Mas nos olhos dos espectadores dos balcões, das estradas, das lojas, dos ônibus e automóveis, podia ver-se a alegria dos que finalmente apreciavam uma manifestação de paz, de amor, de compreensão mútua daqueles dois povos antagônicos. Correram acompanhados pela sirene da polícia de trânsito e pelos jipes cheios de fotógrafos e jornalistas. Corriam acompanhados sobretudo de uma intensa emoção; corriam com a convicção de que estavam realizando algo de útil e positivo em favor da suspirada paz naquela terra.
O jornalista Antônio Mascolo, da Gazeta de Módena, da Itália, um dos participantes, declarou: “Não esqueceremos jamais aquela corrida. Aquele enxame de camisetas coloridas, com o apelo da Paz no peito, fez pela concórdia e pacificação dos espíritos muito mais que mil encontros políticos.”

            E pode-se perguntar: “E o que foi feito depois, em termos de paz, para aquela terra abençoada, que Jesus percorreu, pregando a compreensão e o amor?”

quarta-feira, 27 de julho de 2016

OLIMPÍADAS, esporte ou custos?

                “Mens sana in corpore  sano” – diziam os romanos - “mente sadia num corpo  sadio”. O esporte, praticado com equilíbrio mental e no respeito às exigências da ética, é fator de crescimento  moral e saúde do corpo e do espírito.
            A história da origem dos Jogos Olímpicos é controversa. Segundo a lenda, teriam surgido  por volta do ano 2500, antes de Cristo, motivados pelo desejo do deus Hércules de homenagear seu pai Zeus, deus supremo da mitologia grega. Mas o que a história nos diz mesmo é que os primeiros jogos olímpicos aconteceram em 776 a. C. na cidade de Olímpia, para dar uma trégua às contínuas guerras e conflitos entre as cidades-estados do mundo grego. Olímpia tem a ver também com Olimpo, a morada dos deuses, que eram jovens, sadios e, em geral, de boa aparência.
            Com a dominação romana, foram proibidas as manifestações do culto grego e em 392, da era cristã, um decreto do Imperador romano Teodósio I proibiu os Jogos Olímpicos, pelo seu caráter religioso.
            Em 1896, surgiram as Olímpiadas da era moderna. Foram disputadas em Atenas para uma homenagem às Olimpíadas gregas, por iniciativa do francês Pierre de Fredy, barão de Coubertin. Participaram 285 atletas de 13 países.  As disputas foram inicialmente: atletismo, esgrima, luta livre, ginástica, halterofilismo, ciclismo, natação e tênis. Hoje são muito mais.  
São impressionantes os números dos XXXI Jogos Olímpicos a serem disputados na Cidade do Rio de Janeiro de 5 a 21 de agosto próximo. Serão disputadas 28 modalidades esportivas, com a inclusão do rúgbi de sete e do golfe. Esperam-se cerca de 10.500 atletas, de 206 nacionalidades e prevê-se, pela televisão e pelo rádio, uma audiência de mais da metade da população da terra, isto é, cerca de 4,5 bilhões de pessoas ao redor do planeta.
As próximas Olímpiadas serão realizadas em Tóquio, no Japão, em 2020 e as últimas foram em 2012, em Londres, no Reino Unido. Sempre com a distância de quatro anos, conforme a tradição helênica.
E os custos desse mega-espetáculo? Estudo divulgado pela Universidade de Harvard em 2014 – informa o Boletim Salesiano – estimou que os custos são, em média, 252% a mais do que aquele que foi inicialmente previsto. Como exemplo, a Universidade cita que os Jogos de 2012 custaram aos cofres britânicos 18 bilhões de dólares, embora tenham sido previsto antes gastos na ordem de cerca de 6 bilhões. No caso brasileiro, vai haver um aumento expressivo pela necessidade das ações policiais e de inteligência anti-terroristas.  E ao final, quem  vai  pagar essa conta? O povo, é claro...

terça-feira, 19 de julho de 2016

O BANCO MÁGICO

                Tão interessante é um artigo da revista canadense VERS DEMAIN,  que não resisti ao desejo de transmiti-lo aos meus leitores.  Ele  tem por título “A conta do banco mágico”. Essa revista é  publicada pela organização leiga católica dos Pèlerins de Saint Michel, que usa o curioso distintivo de uma boina branca para homens e mulheres e exerce notável atuação no campo social católico no Canadá e nos Estados Unidos.
                É esse o artigo em tradução livre:
                Imagine que você ganhou o prêmio da Loteria ou de um concurso qualquer. Cada manhã alguém deposita em sua conta bancária 86.400 dólares para suas despesas. Mas você terá que respeitar certas regras, que são as seguintes:
                1ª – O que você não utilizar até o fim do dia será perdido.
                2ª – Você não pode transferir esse dinheiro para outra conta.
                3º - Você não pode fazer com esse dinheiro outra coisa, senão gastá-lo.
                4º - Cada manhã são colocados outra vez em sua conta os 86.400 dólares.
                5º -  O banco, sem nenhum aviso prévio, pode fechar sua conta durante o dia, apenas dizendo “Terminou!” e você não terá nenhum recurso para impedir essa decisão do banco.
                Então, o que você tem que fazer? Comprar tudo aquilo de que você tem necessidade imediatamente! Não somente para você, mas também para os que você ama e que contam com você. Mesmo para aqueles que ainda não se encontraram com você, mas você os ama à distância.
                Você terá o maior cuidado para evitar  perder este prêmio até o fim de cada dia.
                ............................................................................................................................................
                Sim, essa enorme fortuna existe realmente! Essa imensa fortuna é o TEMPO, que nos é dado por Deus  cada manhã e são os 86.400 segundos, que Deus nos concede cada dia para nosso proveito e para fazer o bem aos outros. Cada noite, ele é perdido irrevogavelmente, se não foi devidamente aproveitado durante o dia.
                Pode acontecer também que o Banqueiro divino durante o dia nos tire esse depósito, sem prévio aviso. É a Morte, que pode chegar imprevista e o nosso tempo se acabar.
                O que você não aproveitou durante o dia está perdido para sempre. O tempo passa e se não aproveitarmos dele (dos 86.400 segundos de um dia) está irrevocavelmente perdido.
                Cada manhã, começa de todo a disponibilidade dos 86.400 segundos daquele dia... e que pode ser perdido a qualquer momento do dia, sem aviso prévio pelas mãos da Morte.
                Estes segundos, que Deus nos dá cada dia, realmente valem bem mais do que o equivalente em dinheiro. Cuidemos de aproveitar bem cada segundo do nosso dia, que passa mais rapidamente do que pensamos. Apreciemos profundamente a vida.
                Aproveitemos para o bem a vida que Deus nos dá cada dia, cada segundo do nosso dia. Não nos queixemos da velhice.  Pensemos que muitos outros não tiveram essa chance de fazer o bem e tiveram seus dias abreviados..


terça-feira, 12 de julho de 2016

MULHERES NA IGREJA

          A ascensão da Mulher no mundo político e social em nossos dias é fato notório e incontestável.. Basta ver as várias chefes de estado e de governo, e as candidatas a esses cargos, com maior ou menor êxito. Claro que não podia ser diferente na Igreja, não obstante os vinte séculos de  história machista, também herança cultural das tradições religiosas do judaísmo e da toda a cultura greco-romana, marcadas por  total domínio dos homens e absoluta exclusão do sexo feminino, com raríssimas exceções, como Cleópatra no Egito, com o triste resultado que conhecemos.
                Nos três últimos pontificados, tem-se visto na Igreja notável mudança de atitude diante da participação feminina em seus  órgãos decisórios, desde que por indicação do então Cardeal Ratzinger, Papa S. João Paulo II nomeou duas teólogas para a Comissão Teológica Internacional, depois ampliadas para cinco, já no pontificado de Bento 16.
Neste ano, realizou-se em Roma a assembleia  da União Internacional das Superioras Gerais, com a participação de mais de 800 religiosas, que lotaram um dos maiores hotéis de Roma. Para suas reuniões, contaram com a tradução simultânea em onze línguas, incluindo o idioma coreano, o vietnamita e o chinês. Estudaram e debateram a missão da mulher na visão do mundo de hoje, com o tema: “Tecer a solidariedade global para a vida”,
O Cardeal Pedro Parolin, Secretário de Estado de Papa Francisco, disse que a Igreja hierárquica deve aprender a ouvir as mulheres e essa era uma ocasião imperdível. O modelo de religiosa proposto para o futuro, acrescentou, é muito diferente da freirinha submissa” - como diz uma amiga minha.
As religiosas pretendem tornar-se “mais livres, corajosas, audazes e dispostas” e para isso, precisam ser mais instruídas, capazes de debater, no mesmo nível com os homens,   temáticas fundamentais na vida da Igreja, como a teologia e o direito canônico. Isso, disse a assembleia internacional das religiosas, para se fazer ouvir pela hierarquia eclesiástica com a atenção e o respeito que elas merecem.
“Despertai o mundo! Sêde testemunhas de um modo diverso de pensar, de agir e de viver!” – conclamou Papa Francisco na audiência às religiosas dessa Assembleia, que representavam meio milhão de Irmãs, que trabalham nos cinco continentes.
O Pontífice descreveu depois brevemente as tentações do feminismo e, a mais forte, do clericalismo, isto é, o domínio das mulheres na sociedade e a preponderância do clero no corpo eclesial. E explicou: “O papel da mulher na Igreja não é feminismo, é direito. Direito de batizada com os dons que o Espírito Santo lhe deu.” E explicou o clericalismo como sendo a exclusão do leigo, homem ou mulher, na ação da Igreja e nas decisões eclesiais, destinando-lhe apenas obediente subordinação às determinações dos padres e bispos.
Respondendo à interpelação de uma participante da Assembleia, de que a Igreja possa ser mais aberta a receber o gênio das mulheres num futuro próximo, o  Santo Padre destacou que a mulher encara a vida com um olhar próprio  e o modo de ver um problema, de considerar uma situação, é de maneira diferente do homem. Daí, afirmou Francisco, a necessidade da participação feminina na elaboração das decisões e nas suas realizações, seja pelas mulheres religiosas como leigas.
 E concluo, com a originalidade bem própria  do Papa Francisco: “Recordai-vos bem disso: O que faltaria à Igreja se as religiosas não existissem? Faltaria Maria no Dia de Pentecostes.  A religiosa é ícone da Igreja e de Maria; e a Igreja é feminina, casada com Jesus Cristo.”

Enfim, parece que afinal a Mulher – que a liturgia chama  “devoto femíneo sexu” (o devoto sexo feminino) – terá seu devido lugar na Igreja de Jesus e de Maria, a querida Mãe de Jesus e Mãe da Igreja. 

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Uma Santa para as jovens de hoje


                A Santa que o calendário litúrgico comemorou na última quarta-feira,  6 de julho, parece-me ser realmente uma santa para as jovens de hoje: Santa Maria Goretti, virgem e mártir. Num tempo, em que a permissividade sexual chegou ao ponto de que algumas meninas terem vergonha de serem “ainda” (dizem elas) virgens e que brincadeiras, do tipo “virgindade dá câncer”, serem usuais entre as jovens... nesse tempo, Maria Goretti, mártir da pureza aos 12 anos,  se apresenta como  corajoso apelo aos valores da castidade virginal.
                Nasceu ela em 1890 em Corinaldo, no centro da Itália, de família  camponesa, numerosa e muito pobre. Com a morte do pai, foram residir de favor numa localidade perto de Roma (“paese” diz-se na Itália) na casa dos Serenelli,  uma família composta do pai viúvo e dois filhos homens.
 Um deles, de nome Alexandre,  violento e viciado no sexo, enamorou-se de Maria e, por várias vezes, tentou, sem êxito, manter relações sexuais com ela, que tinha que ficar em casa cuidando dos irmãozinhos menores. Até que um dia, em que estavam sozinhos, sem nenhum adulto em casa, Alexandre foi procurar Maria na cozinha, onde ela estava rezando, em união com Deus. De grande força, de maior idade e estatura, Serenelli tentou forçá-la a manter relações sexuais com ele, enquanto ela gritava: ”Não, não, isso é pecado.”  Catorze facadas com uma faca da cozinha foi a trágica resposta do agressor sexual.
                Acudida depois por sua Mãe,  Maria morrendo repetia: “ Sim, eu o perdôo. Lá no céu eu rogarei a Deus para que ele se arrependa. Quero que ele esteja junto comigo na glória celestial”. Assim, Santa Goretti uniu o heroísmo da pureza ilibada, ao heroísmo do sumo e total perdão. Foi o SIM a Deus pela pureza e pelo perdão e o NÃO ao pecado do sexo e ao ódio de qualquer vingança ou castigo que fosse.
                Alexandre Serenelli, depois de cumprir a pena pelo crime de assassinato de uma inocente, reabilitou-se moralmente e foi trabalhar de jardineiro num convento de frades em Roma. Fato único na história da Igreja, o assassino arrependido participou junto com a mãe de sua vítima, que também o perdoou, da cerimônia de sua beatificação na praça de São Pedro, com 400 mil pessoas..
                O Papa Pio XII, que presidiu a solene cerimônia, disse entre outras coisas: “Na vida desta humilde mocinha, pode-se ver um espetáculo, não apenas digno do céu, mas digno também de ser admirado e seguido pelas pessoas do nosso tempo. Esforcemo-nos todos para alcançar a posse do reino dos céus, confiados na graça de Deus. Sirva-nos de estímulo a santa virgem e mártir Maria Goretti. Que ela, da mansão celeste, onde goza da felicidade eterna, interceda por nós junto ao divino Redentor, a fim de que todos, nas condições de vida que são as nossas, sigamos os seus gloriosos passos com generosidade e vontade firme.”

                Maria Goretti é realmente uma santa para os nossos tempos...

terça-feira, 28 de junho de 2016

"Alegrai-vos comigo..."

Sim, foi de pura e fraternal alegria a festa, com que a diocese de Penedo, e em particular e especial carinho, a cidade de Arapiraca, no dia 17 último, prestaram ao bispo Dom Hildebrando, pelo seu feliz aniversário de belos e bem vividos Noventa  Anos.
            Com o mote “alegrai-vos comigo”, o aniversariante, no final da Santa Missa, agradeceu a celebração e em particular, seus irmãos, os oito bispos presentes - o Metropolita, Dom Antônio Muniz, Dom Dulcênio de Matos,  de Palmeira dos Indios, que fez bela e fraternal homilia, Dom José Palmeira Lessa, arcebispo de Aracaju  (onde Dom Hildebrando fôra bispo auxiliar), Dom João Costa OFM, auxiliar de Aracaju, Dom Dino Marchiò, de Caruaru, Dom Mário Sivieri,  de Propriá-Sergipe, Dom Jaime Mota, emérito de Lagoinha, do Norte da Bahia  e este articulista, que representava na solenidade o bispo diocesano de Penedo, Dom Valério Breda SDB. Esse ficou impossibilitado de comparecer por compromissos em Roma, em  vista da celebração do centenário da diocese de Penedo, no próximo outubro.
            Minha primeira referência à figura de pastor, humilde e laborioso, como sempre se revelou no múnus episcopal Dom Hildebrando, tem algo de curioso e notável. Era o remoto ano de 1980. Tinha eu terminado o ofício de bispo auxiliar em Aracaju e era bispo diocesano de Parnaíba no Piauí. Na assembleia da CNBB em Itaici-São Paulo, Dom Luciano Cabral Duarte, o grande Arcebispo de Aracaju, do qual fora eu auxiliar, falou-me nestes termos:  “Acabada esta Assembleia, eu vou daqui para Arapiraca, em Alagoas, procurar um padre, de nome Hildebrando, do qual tenho ótimas referências, para convidá-lo a ser meu bispo auxiliar. Se ele aceitar, você terá um ótimo sucessor e eu ficarei feliz com esse meu novo bispo auxiliar.” O incrível prestígio de Dom Luciano junto à Nunciatura Apostólica e a aceitação do virtuoso Dom Hildebrando, de todos reconhecido, fizeram com que ele se tornasse meu sucessor como auxiliar de Aracaju. Depois nos encontramos pessoalmente e tivemos várias oportunidades de trocar impressões e pontos-de-vista no difícil exercício de ser bispo. Mais tarde ele o foi de Estância, também em Sergipe, até completar o tempo de bispo diocesano, sendo hoje  emérito. Recordo ainda uma bela viagem, que fiz com Dom Hildebrando e Dom Valério à Alemanha, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude em Colônia. Na ida, fiquei hospedado na mesma casa e no mesmo quarto de Dom Hildebrando, podendo ter com ele longas e proveitosas conversas.

            A festa em Arapiraca no último dia 17, após a soleníssima celebração eucarística na Concatedral, como é chamada a principal igreja da cidade, aconteceu na Casa de festas Tuta: uma apresentação musical de um belo coral; em seguida, solenidade de entrega da comenda, que o Município outorgava ao aniversariante, e o jantar, que encerrou a bela celebração dos 90 anos. No discurso de agradecimento da comenda e de toda a festividade, mais uma vez, o querido de todos,  Dom Hildebrando, convidou-nos: “Alegrai-vos comigo”...

terça-feira, 14 de junho de 2016

A IGREJA E A POLÍTICA



                Sábia e prudente a resposta que o nosso Dom Hélder Câmara deu ao Presidente Juscelino Kubitschek, nos inícios do ano de 1960. Àquela altura, Dom Hélder já gozava de amplo prestígio nacional. Arcebispo Auxiliar de Dom Jaime Câmara, arcebispo do Rio de Janeiro, dirigira  com notável êxito a complexa estrutura do Congresso Eucarístico Internacional de 1955, na então Capital Federal, o primeiro e, até agora,  único de caráter internacional, realizado no Brasil. Criara, e fora seu primeiro Secretário Geral, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, hoje tão conhecida como CNBB. Foi a segunda no mundo.  Havia, na época, apenas a reunião anual dos bispos alemães na  diocese de Fulda. Há uma foto bem interessante da primeira reunião da Conferência dos Bispos do Brasil em redor de uma mesa - não ainda em  amplo auditório para 400 bispos como agora... Vê-se Dom Jaime Câmara como presidente na cabeceira e ao seu lado, o secretário geral, Dom Hélder. Muito se notabilizara o Arcebispo Auxiliar do Rio pelo seu trabalho social-pastoral, com a criação da Feira da  Fraternidade, o incentivo à pastoral das favelas e outras muitas realizações suas no campo da pastoral social.
            Mas, afinal, o que aconteceu nas vésperas da inauguração de Brasília? Era a capital, que o Presidente Kubitschek considerava a meta das metas de seu governo, todo planejado em metas, que deveriam fazer o Brasil progredir 50 anos em 5, como era então o mandato presidencial. JK chamou o nosso Dom Hélder e convidou-o para ser prefeito da nova capital federal, assegurando-lhe o apoio de todos os líderes  partidários, que ele previamente havia consultado. E aqui está a resposta, que encontrei na revista Fato e Razão, do Movimento Familiar Cristão, de março do ano 2000. Dom Hélder recusou polidamente o convite, dando a resposta que qualifiquei como “sábia e prudente”: Hoje, Senhor Presidente, eu estou aqui, frente a frente,  debatendo com o senhor pontos de vista, com absoluta liberdade e sem condicionamentos de qualquer espécie. No dia em que eu me incorporar ao seu grupo de comando, dentro das injunções concretas das práticas políticas, eu estarei amarrado, balançando a cabeça para concordar com o que o senhor disser, deixando de lhe trazer a colaboração original e independente da Igreja. Eu quero ter sempre um canal de diálogo livre e respeitoso com o Estado, para cobrar o seu dever. Quero fazê-lo em nome de Deus e do povo. Quero ser a boca dos que não têm vez nem voz.
          Realmente sábia e prudente essa resposta de Dom Hélder ao Presidente Kubitschek. E essa é que deve ser a posição da Igreja diante da Política: liberdade e independência. Nada de conchavos e compromissos com os políticos e a política.