Papa Francisco encerrou
o Ano da Misericórdia com uma Carta Apostólica, intitulada A MISERICÓRDIA E A MÍSERA. Esse título, um pouco desconcertante, é
tirado do ensinamento de Santo Agostinho, um dos mais insignes doutores da
Igreja, que usa essa expressão ao comentar o conhecido episódio bíblico,
registrado no capítulo 8º do evangelho de São João. Nesse capítulo, narra o
quarto evangelista que alguns fariseus e doutores da lei trouxeram a Jesus uma
mulher colhida em adultério, inquirindo sua opinião se ela deveria ser
apedrejada ou não, conforme determinava a lei, que inexplicavelmente perdoava o
homem, necessário parceiro nesse tipo de pecado. Ao final, depois de ter o
Senhor Jesus convidado que atirasse a primeira pedra aquele que fosse sem
pecado, todos se retiraram sem nada fazer, ficando apenas a mulher e o divino
Mestre, que Santo Agostinho, com tanta beleza de estilo, define: “Restaram
apenas a Misericórdia e a Mísera” (Com. de João 33,5). “Ninguém te condenou,
mulher? Então, eu também não te condeno. Vai, e não peques mais!” - concluiu
Jesus.
O ano que passou foi
para o mundo, e particularmente para nossa pátria, um ano de muita miséria, que
a só a infinita Misericórdia de Deus, à qual
devemos recorrer, pode com segurança nos socorrer. No Oriente Médio,
guerras sem fim, com a triste imagem, difundida por todos os meios de
comunicação, das criancinhas inocentes, mortas, sem nunca terem vivido um tempo
de paz; o drama dos refugiados, que fugindo das guerras e dos regimes
opressores de seus países de origem, aos milhares e milhares buscam na Europa
melhores condições de vida e muitos deles afogam no Mar Mediterrâneo as esperanças de um futuro
melhor; os atentados terroristas em concentrações de pessoas alheias aos
problemas políticos, nas grandes capitais europeias, como Paris e Berlim. Em
nossa pátria, a roubalheira e a corrupção, atingindo grandes empresas e
envolvendo figuras exponenciais do mundo político, como ex-governadores e
deputados, ainda no exercício de seus mandatos. Tudo isso criou um ano
verdadeiramente de muita miséria.
Confiemos à infinita
misericórdia de Deus as misérias de nossa pátria e do mundo de hoje. Que o Novo Ano seja o Ano da vida e da paz,
como todos auguramos; e quero desejar com carinho a todos os meus leitores.