sexta-feira, 31 de julho de 2015

Teologia da Libertação



                Temos teologia da libertação no jornal do Papa? A edição portuguesa do L´Osservatore Romano, de 25 de maio deste ano, publicou na pg. 10 um artigo intitulado “Melhor os pobres”, com o sub-título “O ponto de partida da teologia da libertação”, assinado por Gustavo  Gutierrez, conhecido teólogo peruano. Foi ele um dos iniciadores na América Latina do movimento teológico, conhecido como teologia da libertação, que recebeu severas críticas da Santa Sé e dos chamados teólogos conservadores. Na verdade, trata-se do seguinte: o jornal vaticano com o título “A reflexão” noticiou o recente livro de Gutierrez “Perchè Dio preferisce i poveri”  (Porque Deus prefere os pobres) e transcreveu trechos mais expressivos dos primeiros capítulos desse livro.
                Minha intenção aqui é apenas reproduzir o que me pareceu mais interessante. O autor começa distinguindo duas correntes do pensamento teológico, podendo ambas ser atribuídas ao Evangelho e ao testemunho de Cristo. A primeira centra-se na sensibilidade de Jesus para com os pobres, as crianças, as mulheres e os doentes. A outra, que também se baseia no Evangelho, é que o próprio Jesus levava vida pobre - não tinha uma pedra onde repousar a cabeça. Assim, os cristãos. desde a sua origem, compreenderam que para ser discípulos de Jesus, deveriam como ele levar vida de pobreza. Ambas as correntes são verdadeiras e evangélicas – diz Gutierrez.
E continua: Todavia devemos interpretá-las a partir de  nosso contexto histórico e de nossa vida. No século passado, sobressaiu nova noção de pobreza, com múltiplas raízes. Uma se refere à complexidade da pobreza e sua diversidade. A pobreza não é uma questão meramente econômica. É muito mais do que isso. A dimensão econômica é importante, primária, mas não única. Existem outras:  culturais, raciais, de gênero, só para citar algumas. A pobreza foi, sem dúvida, o ponto de partida da teologia da libertação, embora não tenhamos, diz ele, compreendido sua complexidade e variedade. Nosso conceito de pobreza, diz o teólogo da libertação, permanece válido ainda hoje. Referimo-nos aos pobres, como não-pessoas no sentido sociológico. São invisíveis, são insignificantes. Os pobres indígenas de meu país, o Peru, diz Gutierrez, não existem. Estão ali fisicamente apenas, mas são invisíveis, irrelevantes para a sociedade.
                Outra questão, continua o teólogo da libertação, é que hoje a pobreza é um fenômeno da nossa sociedade  globalizada. A maioria dos seres humanos vive em condições que chamamos de pobreza. Antigamente, falava-se de como ajudar o pobre que está ao nosso lado, que é nosso próximo. Hoje devemos compreender que nosso próximo está tanto próximo quanto longe. A relação de vizinhança é  resultado de nosso compromisso. Não é mais  questão geográfica, hoje é problema global – conclui o artigo de L´Osservatore.
                Enfim, estamos em tempos em que o Papa Francisco recebe de presente  um Crucificado em símbolos comunistas...

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