Temos teologia da
libertação no jornal do Papa? A edição portuguesa do L´Osservatore Romano, de
25 de maio deste ano, publicou na pg. 10 um artigo intitulado “Melhor os
pobres”, com o sub-título “O ponto de partida da teologia da libertação”,
assinado por Gustavo Gutierrez, conhecido
teólogo peruano. Foi ele um dos iniciadores na América Latina do movimento
teológico, conhecido como teologia da libertação, que recebeu severas críticas
da Santa Sé e dos chamados teólogos conservadores. Na verdade, trata-se do
seguinte: o jornal vaticano com o título “A reflexão” noticiou o recente livro
de Gutierrez “Perchè Dio preferisce i poveri”
(Porque Deus prefere os pobres) e transcreveu trechos mais expressivos
dos primeiros capítulos desse livro.
Minha intenção aqui
é apenas reproduzir o que me pareceu mais interessante. O autor começa
distinguindo duas correntes do pensamento teológico, podendo ambas ser
atribuídas ao Evangelho e ao testemunho de Cristo. A primeira centra-se na
sensibilidade de Jesus para com os pobres, as crianças, as mulheres e os
doentes. A outra, que também se baseia no Evangelho, é que o próprio Jesus levava
vida pobre - não tinha uma pedra onde repousar a cabeça. Assim, os cristãos. desde
a sua origem, compreenderam que para ser discípulos de Jesus, deveriam como ele
levar vida de pobreza. Ambas as correntes são verdadeiras e evangélicas – diz
Gutierrez.
E continua: Todavia devemos interpretá-las a partir
de nosso contexto histórico e de nossa
vida. No século passado, sobressaiu nova noção de pobreza, com múltiplas raízes.
Uma se refere à complexidade da pobreza e sua diversidade. A pobreza não é uma
questão meramente econômica. É muito mais do que isso. A dimensão econômica é
importante, primária, mas não única. Existem outras: culturais, raciais, de gênero, só para citar
algumas. A pobreza foi, sem dúvida, o ponto de partida da teologia da
libertação, embora não tenhamos, diz ele, compreendido sua complexidade e
variedade. Nosso conceito de pobreza, diz o teólogo da libertação, permanece
válido ainda hoje. Referimo-nos aos pobres, como não-pessoas no sentido
sociológico. São invisíveis, são insignificantes. Os pobres indígenas de meu
país, o Peru, diz Gutierrez, não existem. Estão ali fisicamente apenas, mas são
invisíveis, irrelevantes para a sociedade.
Outra questão,
continua o teólogo da libertação, é que hoje a pobreza é um fenômeno da nossa
sociedade globalizada. A maioria dos
seres humanos vive em condições que chamamos de pobreza. Antigamente, falava-se
de como ajudar o pobre que está ao nosso lado, que é nosso próximo. Hoje
devemos compreender que nosso próximo está tanto próximo quanto longe. A
relação de vizinhança é resultado de
nosso compromisso. Não é mais questão
geográfica, hoje é problema global – conclui o artigo de L´Osservatore.
Enfim, estamos em
tempos em que o Papa Francisco recebe de presente um Crucificado em símbolos comunistas...
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