sexta-feira, 31 de julho de 2015

“MELHOR OS POBRES”



                Com esse título, o L´Osservatore Romano, em sua edição semanal  portuguesa de 28 de maio último,  publicou alguns excertos do pequeno livro, de 64 páginas,  “Porque Deus prefere os pobres”, recentemente publicado em Bolonha pelo teólogo peruano Gustavo Guttiérrez, que o jornal do Papa qualifica como “um dos maiores expoentes da teologia da libertação”.
                O autor começa distinguindo duas correntes de pensamento fundamentais relativas à pobreza, podendo ambas serem atribuídas aos Evangelhos e ao testemunho de Jesus. A primeira é a que põe em relevo a sensibilidade de Jesus para com os pobres, as crianças, as mulheres e os doentes. A outra,  também evangélica, é que o próprio Jesus levava vida pobre - não tinha uma pedra onde repousar a cabeça. Assim, os cristãos. desde sua origem, compreenderam que para ser discípulos de Jesus, deveriam como ele levar vida de pobreza. Ambas as correntes são verdadeiras e evangélicas –  afirma o teólogo da libertação.
E continua: Todavia devemos interpretá-las a partir de  nosso contexto histórico e de nossa vida. No século passado, sobressaiu nova noção de pobreza, com múltiplas raízes. Uma se refere à complexidade da pobreza e sua diversidade. A pobreza não é  questão meramente econômica. É muito mais do que isso. A dimensão econômica é importante, principal, mas não única. Existem outras pobrezas:  culturais, raciais, de gênero, só para citar algumas. A pobreza foi, sem dúvida, o ponto de partida da teologia da libertação, embora não tenhamos, diz ele, compreendido sua complexidade e variedade. Nosso conceito de pobreza, diz o teólogo da libertação, permanece válido ainda hoje. Referimo-nos aos pobres, como não-pessoas no sentido sociológico. São invisíveis, são insignificantes. Os pobres indígenas de meu país, o Peru, diz Gutierrez, não existem. Estão ali fisicamente apenas, mas são invisíveis, irrelevantes para a sociedade. Até aqui o teólogo peruano.
Uma teologia da libertação que reconheça o sentido sobrenatural do cristianismo, sua origem da Palavra de Deus inspirada, sua concepção do fim último do homem, que é a vida eterna, certamente que pode muito bem ser aceita e discutida em meio às tantas correntes da teologia cristã – ao menos esse é nosso modesto parecer...

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