Com esse título, o L´Osservatore Romano, em sua edição semanal portuguesa de 28 de maio último, publicou alguns excertos do pequeno livro, de
64 páginas, “Porque Deus prefere os
pobres”, recentemente publicado em Bolonha pelo teólogo peruano Gustavo
Guttiérrez, que o jornal do Papa qualifica como “um dos maiores expoentes da
teologia da libertação”.
O autor começa
distinguindo duas correntes de pensamento fundamentais relativas à pobreza,
podendo ambas serem atribuídas aos Evangelhos e ao testemunho de Jesus. A
primeira é a que põe em relevo a sensibilidade de Jesus para com os pobres, as
crianças, as mulheres e os doentes. A outra,
também evangélica, é que o próprio Jesus levava vida pobre - não tinha
uma pedra onde repousar a cabeça. Assim, os cristãos. desde sua origem,
compreenderam que para ser discípulos de Jesus, deveriam como ele levar vida de
pobreza. Ambas as correntes são verdadeiras e evangélicas – afirma o teólogo da libertação.
E continua: Todavia devemos interpretá-las a partir
de nosso contexto histórico e de nossa
vida. No século passado, sobressaiu nova noção de pobreza, com múltiplas
raízes. Uma se refere à complexidade da pobreza e sua diversidade. A pobreza
não é questão meramente econômica. É
muito mais do que isso. A dimensão econômica é importante, principal, mas não
única. Existem outras pobrezas:
culturais, raciais, de gênero, só para citar algumas. A pobreza foi, sem
dúvida, o ponto de partida da teologia da libertação, embora não tenhamos, diz
ele, compreendido sua complexidade e variedade. Nosso conceito de pobreza, diz
o teólogo da libertação, permanece válido ainda hoje. Referimo-nos aos pobres,
como não-pessoas no sentido sociológico. São invisíveis, são insignificantes.
Os pobres indígenas de meu país, o Peru, diz Gutierrez, não existem. Estão ali
fisicamente apenas, mas são invisíveis, irrelevantes para a sociedade. Até aqui
o teólogo peruano.
Uma teologia da libertação que reconheça o sentido
sobrenatural do cristianismo, sua origem da Palavra de Deus inspirada, sua
concepção do fim último do homem, que é a vida eterna, certamente que pode
muito bem ser aceita e discutida em meio às tantas correntes da teologia cristã
– ao menos esse é nosso modesto parecer...
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