quarta-feira, 13 de maio de 2015

ENTREVISTA ESTRANHA

Estranha a entrevista que, em lugar privilegiado, concedeu a importante revista de circulação nacional Sua Eminência Reverendíssima o Sr. Cardeal Dom João Braz de Aviz, Prefeito (igual a presidente) da Congregação para os Institutos da Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica da Cúria romana.
                Estranhas as comparações que Sua Eminência faz entre o Papa Francisco e o santo e sábio papa emérito Bento 16. “A principal diferença – diz ele - está na forma de se comunicar. Vejo o Papa Francisco pelo menos a cada duas semanas. O relacionamento com ele é direto. Se preciso falar com o Papa, marco uma audiência.” Realmente não entendi... Estranho que seja ele quem marca a audiência e não o Papa. Pelo menos a cada duas semanas?... E continua: “Raramente o encontro demora mais de uma semana para acontecer. Quanto a Bento 16, na última vez que pedi para falar com ele, o encontro foi marcado para dali a quatro meses. Ele é  extremamente tímido, e essa timidez causou uma dificuldade de comunicação muito grande. Os documentos que enviávamos a ele passavam antes por diversas instâncias. Muitas vezes já chegavam ao papa com interpretações que não eram as nossas.” Diz ainda o purpurado: “O Papa Francisco tem o hábito de mandar bilhetes, sem intermediários. Tenho uns onze guardados. Todos estão em espanhol: Querido hermano,  a ver si usted me puede ayudar.”
                Há ainda outra coisa estranha nessa entrevista cardinalícia. E é o que se refere aos dois conclaves, de que participou Sua Eminência. Trata-se da reunião para a eleição do Papa, a que tomam parte exclusivamente os cardeais, com menos de 80 anos.  Na atual disciplina da Igreja, ele é realizado sob absoluto sigilo. Após as reuniões preparatórias, em que são discutidos os principais problemas da Igreja naquele momento, para encaminhar a escolha de um Papa para aquela época, o prelado que encaminha os trabalhos faz a curiosa proclamação em latim: Extra omnes – “Todos para fora!” A Guarda Suiça fecha a Capela Sistina por fora, ficando no recinto apenas os cardeais eleitores e o pessoal de serviço. Daí veio o nome “conclave”, isto é, ”com chave”.
Estranho que o ex-arcebispo de Brasília tenha feito revelações sobre os dois conclaves de que participou. Do primeiro, diz que teve muito medo de ser eleito Papa (?). E acrescentou que o Cardeal Martini, arcebispo de Milão, vendo que podia ser eleito, mostrou as mãos trêmulas e explicou: “Vejam, estou com Parkinson e piorando. Vocês não podem votar em mim. Votem em Bergoglio.” “A partir de então, o nome de Ratzinger ganhou força. Foi Bento 16. Do segundo conclave,  que elegeu Papa Francisco, diz o Card. Aviz claramente: “Votei nele porque era um homem autêntico e simples.” Mas confessou que tinha uma pontinha de medo, porque – diz expressamente – “Ele é jesuíta...”
Espero que seu anunciado livro – “Eu João” –  seja menos estranho...


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