A liturgia
da Igreja fixa a maior festa do ano litúrgico, a Páscoa da Ressurreição do
Senhor, no primeiro domingo, após a lua cheia da primavera, no hemisfério Norte.
Assim, a Páscoa pode ocorrer do domingo, 22 de março, ao domingo, 25 de abril.
Por exemplo, no ano passado, foi no dia 27 de março e este ano será no dia 16
de abril. A Quarta Feira de Cinzas este
ano é no dia 1º de março.
A história
da Igreja conhece longa controvérsia sobre
a fixação do dia da festa da Páscoa, com diversidade de datas entre o
Oriente e o Ocidente. Após várias decisões conciliares e decretos papais,
finalmente, só nos inícios do século 8º, é que se chegou à unanimidade da data
da Páscoa, como conhecemos hoje.
E agora, a
pergunta: que tem isso a ver com o Carnaval? Na verdade, não deveria haver
nada, absolutamente nada! Mas é que o Carnaval nasceu de uma festa, que os
cristãos celebravam na chamada Terça-feira Gorda, com abundante refeição com
carne, despedindo-se da carne – em latim “Carnis,
vale” – Adeus, carne! - daí o nome
Carnaval. Isso porque no dia seguinte começavam os quarenta dias de jejum, nos
quais era rigorosamente proibido comer carne. Acontece que nem existe mais esse
jejum de 40 dias, nem os cristãos se despedem de comer carne; nem os que fazem
Carnaval têm nada a ver com a Quaresma,
como os que celebram com severidade a liturgia quaresmal, começada com a Quarta-feira de Cinzas,
festejam o Carnaval. Antes, pelo contrário, muitos e sobretudo jovens de vida cristã comprometida, aproveitam
esses dias de feriados para um retiro espiritual, com uma renovação interior e
uma séria preparação para o santo tempo quaresmal, que nos leva à celebração da
Páscoa do Senhor.
E então, por
que o Carnaval ficou vinculado à celebração litúrgica da Páscoa, com a Quaresma
e a Quarta-feira de Cinzas? Não há explicação razoável possível. Trata-se de
mera inércia histórica, dessas que ficam, porque ninguém tem coragem de mudar.
Ainda bem, nos tempos antigos, quando o Carnaval se limitava aos três dias,
chamados de folia, e se concluía rigorosamente na chamada “Quarta-feira
ingrata”, como diziam os foliões. Hoje, o que acontece em algumas capitais, é
que o Carnaval dura quase um mês, invade a Quaresma desde o desfile no Rio das
escolas de samba vitoriosas, até outras manifestações da folia durante o tempo
quaresmal, que os cristãos consideram sagrado.
Já propus
uma vez na CNBB entrar em entendimento com as entidades promotoras do Carnaval,
para marcar data fixa, fora do tempo
quaresmal, para eliminar essa esdrúxula e absurda vinculação do Carnaval com o
santo tempo da Quaresma. Seria ótimo para os organizadores, como já se
manifestou em 2005 o diretor da Liga Independente das Escolas de Samba, Hiram Araujo,
que disse na época que a sua idéia esbarrava na força superior da Igreja
Católica. Tal proposta é sensata quando propõe data fixa para o Carnaval, longe
da Quaresma, por exemplo, no primeiro domingo de fevereiro. Assim, os
organizadores do Carnaval não iriam, cada ano, consultar o calendário litúrgico
da Igreja Católica para fixar a data do Carnaval (?).
Ainda espero
que um dia o bom senso prevaleça e se
faça separação entre a festa dos foliões
e o santo tempo litúrgico da Quaresma, que nos leva à celebração da Páscoa do
Senhor.
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