terça-feira, 14 de junho de 2016

A IGREJA E A POLÍTICA



                Sábia e prudente a resposta que o nosso Dom Hélder Câmara deu ao Presidente Juscelino Kubitschek, nos inícios do ano de 1960. Àquela altura, Dom Hélder já gozava de amplo prestígio nacional. Arcebispo Auxiliar de Dom Jaime Câmara, arcebispo do Rio de Janeiro, dirigira  com notável êxito a complexa estrutura do Congresso Eucarístico Internacional de 1955, na então Capital Federal, o primeiro e, até agora,  único de caráter internacional, realizado no Brasil. Criara, e fora seu primeiro Secretário Geral, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, hoje tão conhecida como CNBB. Foi a segunda no mundo.  Havia, na época, apenas a reunião anual dos bispos alemães na  diocese de Fulda. Há uma foto bem interessante da primeira reunião da Conferência dos Bispos do Brasil em redor de uma mesa - não ainda em  amplo auditório para 400 bispos como agora... Vê-se Dom Jaime Câmara como presidente na cabeceira e ao seu lado, o secretário geral, Dom Hélder. Muito se notabilizara o Arcebispo Auxiliar do Rio pelo seu trabalho social-pastoral, com a criação da Feira da  Fraternidade, o incentivo à pastoral das favelas e outras muitas realizações suas no campo da pastoral social.
            Mas, afinal, o que aconteceu nas vésperas da inauguração de Brasília? Era a capital, que o Presidente Kubitschek considerava a meta das metas de seu governo, todo planejado em metas, que deveriam fazer o Brasil progredir 50 anos em 5, como era então o mandato presidencial. JK chamou o nosso Dom Hélder e convidou-o para ser prefeito da nova capital federal, assegurando-lhe o apoio de todos os líderes  partidários, que ele previamente havia consultado. E aqui está a resposta, que encontrei na revista Fato e Razão, do Movimento Familiar Cristão, de março do ano 2000. Dom Hélder recusou polidamente o convite, dando a resposta que qualifiquei como “sábia e prudente”: Hoje, Senhor Presidente, eu estou aqui, frente a frente,  debatendo com o senhor pontos de vista, com absoluta liberdade e sem condicionamentos de qualquer espécie. No dia em que eu me incorporar ao seu grupo de comando, dentro das injunções concretas das práticas políticas, eu estarei amarrado, balançando a cabeça para concordar com o que o senhor disser, deixando de lhe trazer a colaboração original e independente da Igreja. Eu quero ter sempre um canal de diálogo livre e respeitoso com o Estado, para cobrar o seu dever. Quero fazê-lo em nome de Deus e do povo. Quero ser a boca dos que não têm vez nem voz.
          Realmente sábia e prudente essa resposta de Dom Hélder ao Presidente Kubitschek. E essa é que deve ser a posição da Igreja diante da Política: liberdade e independência. Nada de conchavos e compromissos com os políticos e a política.

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