Sábia e prudente a
resposta que o nosso Dom Hélder Câmara deu ao Presidente Juscelino Kubitschek,
nos inícios do ano de 1960. Àquela altura, Dom Hélder já gozava de amplo
prestígio nacional. Arcebispo Auxiliar de Dom Jaime Câmara, arcebispo do Rio de
Janeiro, dirigira com notável êxito a
complexa estrutura do Congresso Eucarístico Internacional de 1955, na então
Capital Federal, o primeiro e, até agora,
único de caráter internacional, realizado no Brasil. Criara, e fora seu
primeiro Secretário Geral, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, hoje
tão conhecida como CNBB. Foi a segunda no mundo. Havia, na época, apenas a reunião anual dos
bispos alemães na diocese de Fulda. Há
uma foto bem interessante da primeira reunião da Conferência dos Bispos do
Brasil em redor de uma mesa - não ainda em amplo auditório para 400 bispos como agora...
Vê-se Dom Jaime Câmara como presidente na cabeceira e ao seu lado, o secretário
geral, Dom Hélder. Muito se notabilizara o Arcebispo Auxiliar do Rio pelo seu
trabalho social-pastoral, com a criação da Feira da Fraternidade, o incentivo à pastoral das
favelas e outras muitas realizações suas no campo da pastoral social.
Mas, afinal, o que aconteceu nas vésperas
da inauguração de Brasília? Era a capital, que o Presidente Kubitschek
considerava a meta das metas de seu governo, todo planejado em metas, que
deveriam fazer o Brasil progredir 50 anos em 5, como era então o mandato
presidencial. JK chamou o nosso Dom Hélder e convidou-o para ser prefeito da
nova capital federal, assegurando-lhe o apoio de todos os líderes partidários, que ele previamente havia
consultado. E aqui está a resposta, que encontrei na revista Fato e Razão, do Movimento Familiar
Cristão, de março do ano 2000. Dom Hélder recusou polidamente o convite, dando
a resposta que qualifiquei como “sábia e prudente”: Hoje, Senhor Presidente, eu estou aqui, frente a frente, debatendo com o senhor pontos de vista, com
absoluta liberdade e sem condicionamentos de qualquer espécie. No dia em que eu
me incorporar ao seu grupo de comando, dentro das injunções concretas das
práticas políticas, eu estarei amarrado, balançando a cabeça para concordar com
o que o senhor disser, deixando de lhe trazer a colaboração original e
independente da Igreja. Eu quero ter sempre um canal de diálogo livre e
respeitoso com o Estado, para cobrar o seu dever. Quero fazê-lo em nome de Deus
e do povo. Quero ser a boca dos que não têm vez nem voz.
Realmente sábia e prudente essa
resposta de Dom Hélder ao Presidente Kubitschek. E essa é que deve ser a posição
da Igreja diante da Política: liberdade e independência. Nada de conchavos e
compromissos com os políticos e a política.
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