Visitei nesses dias um casal amigo, que me chama de “avô”.
Estavam muito felizes pela chegada de seu primeiro filho. Fiquei pensando na
riqueza e no sentido de receber de Deus esse grande dom: um filho.
Escrevi em
Maceió em minha Carta Pastoral sobre a Família, a que mais me alegra e a que
mais estimo: “Todos devem considerar o filho como a fortuna, a preciosidade e o
tesouro de um lar. Nenhum bem material, nenhuma riqueza terrena, pode comparar-se
a um filho. Um lar sem filhos é um lar vazio. É uma casa triste. É uma família
incompleta. Muitas vezes é sem culpa dos esposos. Mas um casal sem filhos não
deixa de ser fato desolador. O filho é a encarnação do amor do pai e da mãe. No
filho, o amor se faz pessoa. Como o Cristo é a encarnação do Verbo, assim o
filho que vem à vida é o amor dos dois esposos, que se faz criatura humana. O
filho é a perpetuação do milagre da criação. Os pais se tornam co-criadores com
Deus, que por amor criou o universo. Assim, eles por amor, associam-se à obra
criadora de Deus e têm, no filho, a concretização desse amor. Todo filho repete
em si a pessoa do pai e da mãe e testemunha ao mundo o amor de seus pais, que o
geraram no amor e pelo amor. “
E a seguir,
cito o ensinamento da Conferência Episcopal Latino-americana de Puebla em 1979:
“Cristo, ao nascer, assumiu a condição da criança: pobre e sujeita aos pais.
Toda criança, imagem de Jesus que nasce, deve ser acolhida com carinho e
bondade. Ao transmitir a vida a um filho, o amor conjugal produz uma pessoa,
nova, singular, única e irrepetível. O rosto de Cristo transparece no rosto da
criança que se deseja e se traz livremente à vida” (Puebla, n.584).
E
concluí na citada Carta Pastoral: “Aí
temos toda a maravilhosa fecundidade do amor, que gera filhos, isto é,
criaturas humanas, perpetuadoras do milagre da criação e continuadoras da
aventura humana sobre a Terra”.
Nosso poeta
João Cabral de Melo Neto, em seu admirável poema “Morte e vida severina”,
escreve com humor: “Conversais e não sabeis que vosso filho é chegado? Estais
aí conversando em vossa prosa entretida: não sabeis que vosso filho saltou para
dentro da vida? Saltou para dentro da vida ao dar seu primeiro grito; e estais
aí conversando; pois sabei que ele é nascido.”
O filho do
rico e o filho do pobre Severino da Maria do Zacarias são o mesmo dom de Deus,
que enriquece a família, alegra a sociedade e traz em si as esperanças de um
mundo melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário