A grande imprensa está toda ocupada
na brilhante realização das Olimpíadas do Rio, cuja inauguração, na sexta-feira,
5 deste mês, encantou o mundo e cobriu de glória o Comité Olímpico brasileiro,
pela perfeição da realização e deslumbramento das apresentações. A alma
nacional ficou lavada de alegria diante do mundo, após tantas notícias tristes
do nosso país pela corrupção e roubalheira, que atingiram figuras notáveis da
República.
Entre as provas tradicionais está a
maratona. A feminina será no domingo, 14 de agosto, e a masculina, no domingo
seguinte, 21 deste mês. A maratona celebra o heroísmo do corredor grego
Feidípides, que em 490 a. C., por ordem do general Milcíades, correu os 42
quilômetros da planície de Maratona para Atenas, a fim de levar a notícia da
vitória grega sobre os persas, pagando com a vida seu esforço hercúleo e seu
patriotismo.
Mas em 30 de abril de 2004, uma
sexta-feira, na Terra, que os cristãos chamam de Santa, mas na qual a violência
desde o início deste século já fez milhares de vítimas mortais, realizou-se
também uma Maratona toda especial. Chamou-se a Maratona da Paz. Trinta pessoas
apenas, entre europeus, israelenses e palestinos, se puseram a correr, não contra
um cronômetro, que assinalasse um vencedor, coroado de louros e premiado com
uma medalha de ouro, mas sim contra o nosso tempo, feito de guerras e
violências, de terrorismo e massacre de inocentes. Saíram de Jerusalém (“cidade
da paz” em seu significado etimológico) para Belém (“cidade do pão”) que, há
dois mil anos atrás, também presenciou um massacre de inocentes, bem menor do
que os atuais.
Os corredores desta original Maratona
traziam todos numa camiseta de várias cores a palavra PAZ, escrita no peito em
italiano ou hebraico moderno ou árabe. Passavam desarmados diante dos fuzis e
metralhadoras apontadas para eles. Sua música, a dos tênis sobre o asfalto, era
sua única arma, junto com a alegria de seus corações. Se a Paz é um dever de todos,
eles colocaram a seu serviço suas forças, suas mentes, seu suor nos dez
quilômetros que separam Jerusalém de Belém, duas cidades sagradas para os
cristãos. Mas aqueles poucos, naqueles
poucos quilômetros, atravessaram um abismo imenso de incompreensões, ódios
raciais, vinganças cruéis, mortes violentas e dramas já quase seculares.
Os israelenses não citam a palavra
Palestina, nem os palestinos citam Israel. Os israelenses não puderam chegar ao
ponto final. Deviam voltar do chamado “check point”. Os palestinos não partiram
de Jerusalém, mas de um ponto político,
chamado fronteira militar. A maratona não teve grande publicidade prévia por
razões de segurança. Mas nos olhos dos espectadores dos balcões, das estradas,
das lojas, dos ônibus e automóveis, podia ver-se a alegria dos que finalmente
apreciavam uma manifestação de paz, de amor, de compreensão mútua daqueles dois
povos antagônicos. Correram acompanhados pela sirene da polícia de trânsito e
pelos jipes cheios de fotógrafos e jornalistas. Corriam acompanhados sobretudo
de uma intensa emoção; corriam com a convicção de que estavam realizando algo
de útil e positivo em favor da suspirada paz naquela terra.
O jornalista Antônio Mascolo, da
Gazeta de Módena, da Itália, um dos participantes, declarou: “Não esqueceremos
jamais aquela corrida. Aquele enxame de camisetas coloridas, com o apelo da Paz
no peito, fez pela concórdia e pacificação dos espíritos muito mais que mil
encontros políticos.”
E pode-se
perguntar: “E o que foi feito depois, em termos de paz, para aquela terra
abençoada, que Jesus percorreu, pregando a compreensão e o amor?”
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