terça-feira, 9 de agosto de 2016

MARATONA DA PAZ

A grande imprensa está toda ocupada na brilhante realização das Olimpíadas do Rio, cuja inauguração, na sexta-feira, 5 deste mês, encantou o mundo e cobriu de glória o Comité Olímpico brasileiro, pela perfeição da realização e deslumbramento das apresentações. A alma nacional ficou lavada de alegria diante do mundo, após tantas notícias tristes do nosso país pela corrupção e roubalheira, que atingiram figuras notáveis da República.
Entre as provas tradicionais está a maratona. A feminina será no domingo, 14 de agosto, e a masculina, no domingo seguinte, 21 deste mês. A maratona celebra o heroísmo do corredor grego Feidípides, que em 490 a. C., por ordem do general Milcíades, correu os 42 quilômetros da planície de Maratona para Atenas, a fim de levar a notícia da vitória grega sobre os persas, pagando com a vida seu esforço hercúleo e seu patriotismo.
Mas em 30 de abril de 2004, uma sexta-feira, na Terra, que os cristãos chamam de Santa, mas na qual a violência desde o início deste século já fez milhares de vítimas mortais, realizou-se também uma Maratona toda especial. Chamou-se a Maratona da Paz. Trinta pessoas apenas, entre europeus, israelenses e palestinos, se puseram a correr, não contra um cronômetro, que assinalasse um vencedor, coroado de louros e premiado com uma medalha de ouro, mas sim contra o nosso tempo, feito de guerras e violências, de terrorismo e massacre de inocentes. Saíram de Jerusalém (“cidade da paz” em seu significado etimológico) para Belém (“cidade do pão”) que, há dois mil anos atrás, também presenciou um massacre de inocentes, bem menor do que os atuais.
Os corredores desta original Maratona traziam todos numa camiseta de várias cores a palavra PAZ, escrita no peito em italiano ou hebraico moderno ou árabe. Passavam desarmados diante dos fuzis e metralhadoras apontadas para eles. Sua música, a dos tênis sobre o asfalto, era sua única arma, junto com a alegria de seus corações. Se a Paz é um dever de todos, eles colocaram a seu serviço suas forças, suas mentes, seu suor nos dez quilômetros que separam Jerusalém de Belém, duas cidades sagradas para os cristãos.  Mas aqueles poucos, naqueles poucos quilômetros, atravessaram um abismo imenso de incompreensões, ódios raciais, vinganças cruéis, mortes violentas e dramas já quase seculares.
Os israelenses não citam a palavra Palestina, nem os palestinos citam Israel. Os israelenses não puderam chegar ao ponto final. Deviam voltar do chamado “check point”. Os palestinos não partiram de Jerusalém,  mas de um ponto político, chamado fronteira militar. A maratona não teve grande publicidade prévia por razões de segurança. Mas nos olhos dos espectadores dos balcões, das estradas, das lojas, dos ônibus e automóveis, podia ver-se a alegria dos que finalmente apreciavam uma manifestação de paz, de amor, de compreensão mútua daqueles dois povos antagônicos. Correram acompanhados pela sirene da polícia de trânsito e pelos jipes cheios de fotógrafos e jornalistas. Corriam acompanhados sobretudo de uma intensa emoção; corriam com a convicção de que estavam realizando algo de útil e positivo em favor da suspirada paz naquela terra.
O jornalista Antônio Mascolo, da Gazeta de Módena, da Itália, um dos participantes, declarou: “Não esqueceremos jamais aquela corrida. Aquele enxame de camisetas coloridas, com o apelo da Paz no peito, fez pela concórdia e pacificação dos espíritos muito mais que mil encontros políticos.”

            E pode-se perguntar: “E o que foi feito depois, em termos de paz, para aquela terra abençoada, que Jesus percorreu, pregando a compreensão e o amor?”

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