quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O Papa, Cuba e os Estados Unidos

Após atrair as atenções da mídia mundial com seu decreto “motu próprio” Jesus Cristo, o Juiz Clemente,  reafirmando a santidade e indissolubilidade do verdadeiro matrimônio cristão e simplificando o processo de declaração de uma nulidade evidente, o Supremo Legislador da Igreja, o Papa Francisco, voltou agora a atrair as atenções da imprensa mundial na semana passada, de 19 a 26 deste, com sua viagem a Cuba e aos  Estados Unidos. 
Cuba era para a colonização espanhola nas Américas a pérola do Caribe. Cedida aos Estados Unidos em 1898, tornou-se realmente independente em 1902, permanecendo em poder dos americanos a base naval de Guantánamo. Como foi a última colônia perdida na América pela Espanha, dizia-me um amigo que, para consolar-se de alguma perda, os espanhóis dizem: “Eh! más se perdió en Cuba!”
Arrasada e reduzida à miséria pela ditadura castrista, viu-se desamparada após o esfacelamento do Império Soviético, desde a queda do Muro de Berlim em 1969 . Aqui é bom lembrar que  Fidel é ex-aluno jesuíta e rezava o terço em Sierra Maestra, para a vitória da Revolução contra o ditador Fulgêncio Batista.
É claro que o embargo econômico, que os Estados Unidos impuseram a Cuba por décadas, só fez sofrer o heroico povo cubano, porque os líderes comunistas passavam muito bem, sem as esmolas dos americanos. Um alto prelado brasileiro, inclusive purpurado, afirmou num devaneio que Cuba era a realização do paraíso terrestre. Mas uma esclarecida religiosa cubana, que participou em Itaici de uma reunião continental sobre Vocações, me dizia enfaticamente que só falava bem de Cuba quem não residia lá.
A imprensa divulgou que o velho Fidel presenteou o Papa com um livro de Frei Betto sobre Cuba. Frei Betto, nos primeiros anos do governo Lula, ocupava uma sala no Palácio do Planalto, vizinha à sala do Presidente, como seu assessor particular. Mas logo deixou esse cargo e escreveu um livro, intitulado “A Mosca Azul”. Diz-se  que essa mosca, picando uma pessoa,  provoca delírios de grandeza.
Papa Francisco esteve em três cidades cubanas:  a capital, Havana, em Holguin e em Santiago de Cuba, onde venerou a padroeira da Ilha caribenha, Nossa Senhora do Rosário do Cobre e aí se despediu do sofredor e heroico povo cubano.
De  Cuba, o Papa Francisco foi para os Estados Unidos. Cito o insuspeito Michail Gorbachev em seu livro-programa “Perestroika – novas ideias para o meu país e o mundo” : “Os Estados Unidos da América têm uma grande história. Quem pode questionar a importância da revolução americana para o progresso social da humanidade ou o gênio tecno-científico dos EUA e suas realizações na literatura, arquitetura e arte? Tudo isso pertence aos EUA” (pg. 253 da versão portuguesa). Mas os EUA são também a terra da bomba atômica, lançada no Japão, nos estertores da derrota militar, para mostrar à União Soviética (já começava a guerra fria) seu insuperável poderio de destruição. É o País que se arvorou em Polícia mundial, com as absurdas guerras do Vietnã, da Coréia e ainda recentemente, com a intervenção no Afeganistão contra o talibã. Sofreu o atentado contra as Torres Gêmeas e o Pentágono, que mostrou também seu lado fraco.




O Santo Padre teve encontro particular com o Presidente Obama. Nele – dizem os jornais – terá discutido temas como justiça social e econômica, mudanças climáticas e integração de imigrantes. O Presidente, nos jardins da Casa Branca, diante de mais de 10.000 pessoas, elogiou a humildade e simplicidade de Francisco e agradeceu seu apoio inestimável na histórica aproximação, iniciada em 2014 entre Havana e Washington. Papa Francisco falou ainda no Congresso Americano, com 31% de  católicos – o primeiro papa que o faz – e em Nova Iorque, discursou na Assembleia Geral das Nações Unidas, seguindo a tradição de seus três últimos predecessores.
Em Filadélfia, cidade-berço da democracia americana, com a convenção das 13 colônias inglesas numa sala modesta, que ainda hoje se conserva, como em 1775, e o sino da liberdade, o Papa  encerra a Jornada Mundial das Famílias e se despede do continente americano.

Assim Francisco, com sua encantadora simplicidade e extraordinária popularidade, trouxe bênçãos e graças para a América.

Nenhum comentário:

Postar um comentário